segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Papo Complexon


Tu vens com esse papo complexo,
Eu desconvexo
Tu queres algo com nexo
E eu quero o básico
Tu vais de clássico
E eu, do terceiro milênio,
Sou o terceiro milésimo
A te querer jogar porrinha
Mas tu só jogas tazo

Eu, que fui bicôncavo,
Agora, biconvexo,
Queria te oferecer
Algo próximo do mágico,
Mas meu bolso tem durex
E o coração durepox,
E talvez tu nem te toques
Que onde vais de Jackson,
Eu vou de Jáquissom,
Que este anda de jegue, sô,
Aquele, de Tucson
De intercâmbio automático

E nem diga que eu só quero sexo
Que, diriam Brodel e Febvre,
A verdade é reflexo
Ou mesmo anexo
De uma sociedade.
Ou seja:
É verdade o querer do sexo
Mas queria que tu te encostasse
Dois minutos em minha rede
Antes de me partir,
Pra deixar-me com dois dedos
De saudade

domingo, 20 de janeiro de 2013

Paixão Anatômica

O coração vive tão só
Que não lhe deixam tocar nem mesmo o pulmão.
O coração vive só, que é independente,
Que há quem lhe proteja e lhe estenda a mão:
O PERICÁRDIO!

As vísceras seriam um cadarço embolado
Se vivessem todas lado a lado,
Que as vísceras são como irmãos:
Se ajudam, mas não podem se encostar
Sem sair na mão.
Mas há quem lhes abrace, lhes envolva,
Há quem lhes pacifique e lhes diga não:
O PERITÔNEO!

O pinto é brigado com o cu
E só quer lhe foder.
O cu é enciumado da vagina,
Que retém mais poder.
Mas há quem com dura mão
A base de muito suor
Lhes separe, lhes acalme,
Lhes diminua a tensão:
O PERÍNEO!

E eu, que vivo só,
Sou irmão de mim mesmo,
Que me amo e vivo brigado comigo,
Ando embolado e enciumado,
Não tenho quem me proteja,
Me acalme, me estenda a mão,
Me envolva, me abrace,
Me diga não.

Pois vem cá e me ouve!
Ouve o apelo desse nego teu
Periniza-me,
Vem ser meu periêu!

A Lembrança

A lembrança,
A lembrança endiabrada
É uma versão enviesada
De um passado que se consome

O passado,
O passado se faz sombra
E o presente o desmembra
E, desmembrado, o encarna
Em-carna-ação

Perceba, como por exemplo,
Que hoje eu não quero nada,
Nem mesmo quero a minha querência de nada
E desquero o desquerer de toda a minha quereridão,
E ainda assim me torturo
Sendo filho de um passado
Maquiado de presente, transmutado em futuro
E amante mais assíduo
Da solidão