segunda-feira, 22 de julho de 2013

A mente, remela

A alma pede
A mente luta
Ô mente bruta!
Que fede até de longe
A labuta

A alma insiste
A mente nega
Ô alma besta!
Que mais do que do sono
Gosta da sesta
E mais do que desta
Gosta da sexta
Que tem sono, sesta, sexta
E cachaça que num presta

A alma fecha o olho
Seu espelho e tesouro
E amolece a perna
Num embate
Gritando por dentro
"Cinco minutos ou morte"

A mente contrai a bexiga
E é mãe da insônia
Quer pôr de pé a alma à força
E se entrosa dizendo
"Não durma, minha linda,
A vida é massa"

A mente pinica o corpo
A alma coça
A alma tem mau hálito
A mente cheira
A mente, remela
A alma, lágrima
A alma se lastima
A mente ri dela
A mente lembra ela
Que ela não vive só
A alma quer mais tempo
Pra achar um amor
A alma tem sono
A mente, fome
A mente quer ouro
A alma, fome
A alma grita
"Porra, me deixa dormir"
A mente aproveita o momento
E se levanta de repente
Pra mais um dia sem alma
Ou com ela espancada em calma
Um tanto doente

domingo, 14 de julho de 2013

Coco Cotidiano

É um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
Deus me livre dessa seita
Que o patrão é Jeová 

É um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
Ritalina no café
Sertralina no jantar

É um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
Me ame triptilina
Que eu vou me apaixonar

É um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
Mais dez anos desse jeito
Eu vou me auto suicidar

Mas é um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
Um barbitúrico eu comprei
Pra eu poder me barbear

É um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
Tem um que segura a merda
E o outro é pra cagar

Um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
Eu me benzo diazepínico
Pra noite começar

É um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
Escitá-lo mais fluoqui
Com banana e fubá

Mas é remédio pra dormir
E o outro é pra acordar
Tem um que levanta a rola
E tem outro pra gozar

É um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
É café café café
Até o café acabar

É um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
Um que faz eu ler o texto
E o outro é pra lembrar

É um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
É a coca pra correr
E a diamba no sofá

É um remédio pra dormir
E o outro pra acordar
Que essa tal mudernidade
Que se vive na cidade
Já está pra me matar!

O Sorriso

Por todo o dia só me faz falta Um sorriso!
Sei bem qual não é:
Não é o de uma nêga maliciosa
Nem tampouco o de uma de olhar bondoso
Que essas vez por outra sorriem pra mim.
Não é sorriso de mãe, nem de vó
Nem de pai também que esse sorri pra mim todo dia.
Não é sorriso de lua,
Que todo mês o tenho mais de uma vez. 
Nem dos amigos, que sorriem quando me querem
Fazer rir.

Dizer qual é o sorriso é mais difícil. 
Só sei que ele parte de mim.
Por todo dia só me faz falta Um sorriso.
O de quem levanta
E anda até o alpendre ou à varanda
Minutos depois da toada
Entoada pelo vendedor de cocada
Que vai com dois jacás gritando e erguendo a mão
"Na frente tem cocada, atrás só tem pão".
É um sorriso sem furdunço de metrô,
Sem reclames
Sorriso de quem ama poder levantar da cama.
É de quem vê um bode cagando na plantação,
Cocô de poodle não!
Sorriso de quem levanta os sovacos
Se estica todo, fica na ponta do pé,
E mostra os dentes quando se estalam as costelas.
Pensando em nada,
Nada delas!
Sorriso de quem tira as remelas com tempo suficiente
De atravessar as ladeiras e paralelas
De uma cidade grande e bela
Onde eu jamais poria novamente o meu par de chinelas
Se acaso eu pudesse...
Sorriso que não se avexa, que coça o bucho.
Não esse sorriso esdrúxulo 
De inibidores tricíclicos de recaptação de serotonina.
Riso de criança malina.

Me falta todo dia todo o dia
Um sorriso sem essa apatia.
Sorriso de quem dormiu bem
E da bom dia
Ao próprio dia.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Indo pras férias

_Não acredito, vou viajar com uma atriz!
_E eu com um médico! Vou poder fingir que tive um desmaio e ainda ser atendida!
_E eu nunca vou saber se fiz um procedimento ou uma peça!
_Cena, meu querido.
_Síncope, minha preta.
_Ah, te fode!
_O que você quer dizer com isso?
_Sacanagem, fingi que surtei...
_E eu, que iniciei uma consulta psiquiátrica! Um cheiro.

domingo, 7 de julho de 2013

Chega aí, vou te mandar um caso reto!

Eu vou só,
Assumo

Caso Eu não esteja aqui,
Tu somes

Ele vai lá
E nem sabe quem somos

Quem somos nós
Eu mais tu?

Ou ides a sós?
Falo de Vós

Eles já sabem 
que Tu não vais com eles

Que se Tu fosses, iriam Vós
Se Eu fosse, Nós
E se ninguém mais quisesse ir nem ficar
Nem fazer mais coisa nenhuma, ainda assim
Choveria sobre nossa voz!

DR

Esse dedo em riste
É o fim do início de um filme triste
Que já não se insiste em se ver
Ora, antes ligar o mute da tevê
Que ser sempre surdo à tua voz
E ser cego ao te ver

Esse dedo em riste
É o início do fim da inocência
Que amor sem fim
Agora parece aparência
De um fim sem amor
Num filme para se ver só

Vendo tela quente, pensando se se ama,
Sentado na cela, comendo banana
 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Era um Soneto

É a primeira vez neste século que assumo
Que já não posso viver tão angustiado.
Pois venho inaugurar este meu novo lado
Que tem Deus por início, por fim e por rumo

Quis assim fazer uma epopéia em dez cantos
Pra louvar o Rei como ao rei louvou Camões.
Quis fazer prosopopéias, odes, canções,
Desses tipos que há tanto tempo fazem tantos

Aí pensei que eu posso ser como o Gregório,
O que fazia a Deus um soneto notório,
Mas em outro dia escrevia à fuleragem

E agora que acabo este segundo terceto
Eu percebo que, de certo, faço um soneto
Mas queria deixá-lo mais à minha imagem:

Foda-se!
  

O que rola por aí

É doido pensar que enquanto eu penso
Nos leucotrienos, nas selectinas,
Nas integrinas e nos tromboxantos,
Tá tudo rolando
Sem nome aqui dentro

É doído pensar que se pensou
Que da glande pulavam lípides
Que nasciam na próstata
E no sêmen se iam chamar prostaglandinas,
Quando se sabe hoje que eles provêm das vesículas seminais:
O que mais leio tão intensamente
Que não rola aqui dentro jamais?

E o plexo braquial?
Parece que é ele quem ainda levanta meu braço
Sem se importar se eu ainda lhe tenho ciência,
Bem ou mal,
Ou se lhe sei os caminhos
(O que não sei por sinal)

Lá vai o organismo sozinho
Sabendo que a consciência racional de si
É um quase nada de porra niuma
Do pentelho dos ovos do mucuim
Do que rola por aí