domingo, 30 de junho de 2013

Mais logo eu vou

Depois do dia longo
Eu deito e sonho acordado com o sono REM
Ai meu deus, e o sono não rêim!

Eu fico parado e viro veloz meus óio
Boto meu eyes num rapid moviment
Pra ver se a insônia se rái
Aí meu pai, que o sono num rêim!

Eu me encango e mungango
Me reviro e embolo a canga
E o sono rêim, mas logo se rái e num volta mais
Ai, que ai, que o sono se rái!
Eu arrocho o mel da Roche
E o sono não rêim!

E oi aiá, a hora é essa, meu sinhô
Ai oiô, já é hora que o galo cantou!

Eu me benzo e me enfezo
De pé pra outro dia cínico
É quando bate à nuca
O benzodiazepínico

Vou só cochilar e mais logo eu vou!
E oi aiá, a hora é essa, meu sinhô
Ai oiô, já é hora que o galo cantou!

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Bom dia

Eu ouvi por aí que a censura acabou
E aí, posso te dar bom dia?
Não pense que é questão de orgia ou de amor
É mais porque tudo tá bom 
E... bem... é dia!

Que coincidência saber que isso tudo acabou
E está de dia
E me deu na telha te dar bom dia
Não que eu tenha gastado meus dias
Esperando o fim desse falso amor

Mas me deu na telha,
E ainda tem fogo na palha,
Talvez eu erga uma sobrancelha
E jogue fora a navalha
Pra te roçar a nuca com a barba desfeita
E cheia de falha
Já que ainda tem um pouco de palha na telha
E tem um pouco de ti em mim, na thalia
Um pouco onde antes havia

Então,
Bom dia!

domingo, 23 de junho de 2013

Indo Dormir

Eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal

Olha que eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal

Mas o gosto não era cobre, alpaca ou zinco
Nem prata, níquel, aço, nem latão
Olha que o gosto num era gosto de ouro
Que eu não tenho um tostão

Mas vê que eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal

O sabor nera cobalto
Que o preço é alto
Nem era tungstênio 
Que eu não tenho no âmago do bolso
Um real pra ligar a luz pra estourar a lâmpada
Que me melaria o dedo com tal gosto

Perceba que eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal

Eu vi que eu não lambia chumbo
Que eu não tiro raio-x e sou de paz
Nem também era chumbinho
Que não é metal, e eu já achei meu rumo
E não me sinto mais sozinho

Não era cálcio pro osso
Nem lítio pra fossa e pro alvoroço
Nem magnésio pro leite de magnésia
Não era sódio, nem potássio nem estrôncio
Ai, nem deus, não era frâncio nem césio

Eu sei que eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal

Ora, eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal

O metal era chorado
Tinha um gosto encavacado
Do bordado de um bordão
O sabor era envergado
Do arame da berimba do berimbau
Panderício, guitarreiro, enviolado, 
O sabor ia molhado de suor e de tensão
Tantanúrico, repiquenécio, enzabumbado,
Estranho e cotidianamente normal
Era o gosto que eu senti
Quando eu passei fio dental

domingo, 9 de junho de 2013

Pro Ti

Ei Ti,
Eu deixei pra ela meu pensamento exposto
E ela me deixou o pensamento imposto
Daí eu fiquei sem chão

Ti,
Será que ela tem razão?

Ei Ti,
Ela me tem tanto gosto
Eu na lembrança só tenho um rosto
O dela, como não

Ti,
Me dê tua bênção

Ei ti,
Ela me deu uma flor de trás dum arbusto
E mexia como só ela o busto
A flor era mais flor que botão

Ti,
Por que não?

Ei Ti,
Por mais que ela apague a luz da minha festa
E que não se ore se a mesa não for posta
Faço de mim besta e dela, oração

Ti,
Se eu tiver que viver assim
Que eu faleça assim então!


Tu

Não me sobrou nenhuma opção
Só tu
Mas tu é um saco
Vai tomar no cu

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ciência

Tu morde minha carne
Sem saber o quanto de mim é água
Talvez assim minha carne tenha sólida textura

Tu te prega no meu suor
Sem saber o quanto do meu suor é muco e uréia
Talvez assim tu me tenha por melhor cheiro

Tu lambe minha pele
Sem saber o quanto da minha pele é carne morta
Assim talvez o que há de morto em mim tenha mais sabor

A minha língua tu degusta
E bem sabe que em troca a tua é degustada
Sem ciência, tua língua só tem a ganhar em sabor e textura e odor

Tu recebe minhas metades
E nem se dá conta que tuas metades esperam pelas minhas
E que nossos gritos em nada assustam o que de haplóide há em nós

Em fim, tu descansa trêmula em meu peito
E não liga que te sustenta em parte osso, água, ar
E em parte citoesqueleto

Eu sorrindo, me achando dono de tudo
Nem percebo que, repousada, tua alma espontânea
Acaba de subjugar o meu limitado senso de mundo 

domingo, 2 de junho de 2013

Anamnese

Pode né... 
É Maicon, com ípsilon e com ó-dáblio-ene no final, Maycown, mas lê Maicom. Nunes. Vinte e três. Ah... solteiro mesmo. Eu corto cabelo. É, cabelerêro. Olha, é assim, eu nasci aqui no DF, mas eu morei muito tempo em São Paulo. É, agora tô aqui de novo. De casa mesmo, mas eu fiquei um tempo internado em Águas Lindas. Olha... assim... tipo... eu tô bem, num tô com nada. Eu vim porque eu desmaiei. Sei lá, eu senti falta de ar e caí, aí quando eu acordei tava na cama já. Eu lembro que eu tive uma dor forte. Na barriga. É, aqui assim. Tem três dias. Então, foi só isso mesmo. Tá, o cocô e o xixi tá normal. Ah, sei lá, é estranho falar disso... rarrarrarrá... ah, faço todo dia, é normal, só tive dor esse dia mesmo. Vomitei não. Uso não. Não. Não. Não. Às vezes. Parei. Uma semana! Rarrarrá... Eu fumava uns dez por dia. Parei quando eu vim pra cá. Olha, eu vou falar pra você, mas não anota aí não. Já fumei muita maconha e cheirava também. Coca, mas eu parei quando eu fiquei amarelo uma vez. Emagreci uns 10 quilos. Em um ou dois meses. Cinquenta e sete agora. Do desmaio? Tá! Eu não lembro antes, só essa dor bem forte e eu tava indo pro banheiro. Aí meu irmão me levou pra cama. Eu moro com ele desde que eu tive uns problemas... Rarrarrá. Rarrarrarrarrá. Tipo cheiro de que? Borracha queimada? Rarrarrá, senti não. Meu dedo não mudou de cor. Assim, ele é pintado assim, é azul né... Rarrarrarrarraaá! Não. Não. Não. Não teve falta de ar não. Não. Eu não sei quanto tempo foi, que eu tava desmaiada! Rarrarrá! Síncope? Ah tá. Hanram, sou, positivo, mas eu não gosto de falar disso. Bonito esse livro! Eu adoro roxo, como é o nome? Leio. É, sou positivo há um ano, que eu sei né?! Um médico me passou um remédio, mas eu num tô tomando não. Não. Não. Tô. Não. Não. Dêxa eu ver? Já disse que sim, oxi. Qual é o nome? Tá: grande ser... Sertal... Sertão! Grande Sertão, dois pontos, Veredas. Você lê muito né? Vocês sempre vem aqui e falam um monte de coisa estranha, eu não entendo quase nada. Mas tem coisa que a gente entende, eu falo bem, é. Terminal mesmo! Veio um cardiologista gordo, brigou com vocês, falou isso. Oxi, eu entendi! Num gostei não, falei pra ele não vir mais aqui! Foi.............. então, num quero falar disso não.................. Pois é............. Guimará... É, ãe, ães! Guimarães Rosa. Quer escrever? E você não vai ser médico? Oxi, escreve depois! E vai escrever melhor que ele! Não se rebaixa, gato! Tu não tem que se comparar com esse Guimarães-não-sei-o-que! Você fala bem, é educado... bonito... Rarrarrá... Tô brincando, mas vai escrever bem sim! Então, eu descobri que era agá-í-vê positivo porque o médico disse pra eu fazer o exame. É que... tipo... foi assim... tipo assim... é... tipo... eu morava com um cara... era casado com ele tinha dois anos... aí um dia ele passou mal, desmaiou, entrou em coma... aí ele descobriu que tinha AIDS... é, aí o médico disse pra eu fazer o exame... tô bem... ele tava avançado já. Eu fiquei bem, aí eu parei de tomar o remédio................ é............. tô bem, tô bem, relaxa....... (eu amava ele)..... é, no passado....... tô bem!..... ele morreu no mesmo dia.......... não sabia que tinha......... não sabia que tinha me passado...... é, tô bem!....... sabe...... É..... tipo.... eu tentei me matar....... meu irmão não deixou...... eu amava ele. Tem um raio xis aqui. Tô bem, tranquilo. (Vem aqui que eu te mostro, meu bem). Não, nada, pode olhar aí, o leucócito que parece que tá baixo, setenta e pouco. Parece ruim né? E você, é de onde? Do Rio? Ah, eu tinha um amigo do Maranhão. (Eu amava muito ele). Nada, morou comigo. Tá depois eu vou ler esse Guimarães, quando eu sair daqui! To doida pra trabalhar logo! Rarrarrarrá! Tá bom, prazer, pra você também. Depois eu vou conhecer o Maranhão viu! Rarrarrarrarrarrá, tô bem! Brigada! Tchau!