quinta-feira, 26 de maio de 2011
Leia se quiser
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Canto de Capoeira (Angola)
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Canto de Cursinho
Preso nesse mundo,
perdido em apostilas,
apótemas, propanoatos de metila,
desprezo o atrito social.
Quanto ao aspecto conjuntural
que move tal mundo que me ilha
o entendo ao trago de montila
de etanol que meu senso inibe,
junto à coca-cola diz-se Cuba Libre
Quando não, sem mesmo pensar,
cedo energia a um tal sistema,
e geme a ema num tronco
onde antes gemia um sabiá
(inda me reclama o mestre
do erro de tal nicho ecológico
Penso eu o poeta não é mágico,
mas se faz princesa deitar em pau-pereira,
por que restringir a cantiga à laranjeira?)
Lembra-me Alexandre, o Grande,
que, estudando na São Luís grega,
por Aristóteles dada a vida cega,
e por seu pai, a força de infantes,
disse um dia ante a cidade jônia:
Matem soldados, mal-amados, amantes
Façam mulheres morderem fronhas
Mas não toquem numa simples pedra
ou, de Fedro, numa oração canônica
Matem pessoas,
não idéias por esses anos,
deixemos isso para os imperadores
latino-americanos
Pois se um dia
eu imperar por algum canto,
decretarei que de debaixo de cada manto
só exista prazer, carne e nada mais.
Aliás, farei pó de tudo que é idéia
Ideologias não terão platéia,
e poesias serão escarro
Quem resistir querendo pensar
mandarei pra Alagoas,
lhe mostrarei músicas boas
e um maço de cigarros.
Quando cativo da terra amada,
terá então a saudade dada em suas mãos.
E vai ser o rebelde
pensativo como queria.
Não dou muitos anos para que,
ante a agonia, busque a ignorância
como nunca buscou o saber
Assim, com o conhecimento
acabado em meu mundo,
sem discussões que vão a fundo,
só se saberá de triângulos, Joules, carbonos
Com a história factual,
separaremos na escola o bem do mal.
Todos serão felizes na sábia ignorância
Mas sei que haverá um infeliz
que quererá a sapiência
e, na ausência de diretriz,
vai fazer tudo do zero.
Verá que a palavra não é um mero
molde de certo pensamento.
Descobrirá a dor do sentimento
e vai querer sobrepor o seu
ao de quem mais perceber isso.
E aí votará a haver sal
no nunca antes tão adocicado
mar oceano de Portugal
2008
Canto de Varanda
Aqui, da janela do apartamento,
Vejo todo dia, fim de tarde,
O sol descambando pra outra parte,
Pra onde voa meu pensamento.
E é pra lá que eu vou
É pra lá que eu vou
Quando o corpo venerar a alma,
A agonia se desfizer em calma
E o medo entrar em coma.
Vou me banhar numa cachoeira,
Comer de tudo sem receio,
Amar a feiúra do belo, ver a beleza do feio,
Chorar à toa, feito carpideira,
Vou tomar cana na mamadeira,
O leite eu tomo nas tetas da vaca,
Amar a vaca, o porco, o torto, o reto, o feto
o fato, o rato, o rio, do pinto o pio, o quinto,
o quarto, a sala, a sola, o solo da viola, a bola, a bala,
a fala, o fole, o bole-bole à tarde, a bolinha de carne,
A carne,
Eu quero sobretudo amar a carne,
Nem que lhe falte o cerne,
Que define onde o preconceito lhe cabe
Eu quero a carne, sem corante, sem tempero pronto
A carne crua, que já nasce ao ponto
A carne que afronta a entropia que manda
no antro e no derradeiro ponto do mundo.
09/05/2011