Mãe chegou da ilha!
Ô saudade da velha
E veio trazendo num isopor
Com uma tipóia
Um camarão fresquim de Tutóia
Pai trouxe um limão da Trizidela do Vale
Daqueles amarelos e pequenos
Que não se encontram cá por esses terrenos
Fazendo inveja ao cerrado de vermelha pele
Pois em terra de rolinha e de assum
São chamados de limão comum
E o limão do véi se juntou com o camarão da véa
E a coisa ficou feia:
Chorar com saudade da Trizidela não é novidade
É minha mazela
Mas chorar com saudade de Tutóia?
Terra que eu não conheço o cheiro
Nem sei a cor da praia!
A coisa ficou feia...
Mas o negócio desandou mesmo, lhe falo,
Quando papai botou um fio de azeite Galo
Pra diminuir o gosto de sal
E no meio do samba de domingo
Eu derramei duas lágrimas
Com saudade de Portugal!
domingo, 29 de julho de 2012
sexta-feira, 27 de julho de 2012
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Dos Vícios
Café preto, chocolate amargo, abraço de mãe
Pinga, pingado, pisante girado na roda
Viver o carnaval das Pedreiras
Santo Antônio dos Oliveiras
Marenice chorando e dizendo meu filho, tu volta!
O gunga roncando, o viola chorando e o médio ditando a cadência
O crivador é afinado no fogo
O meião é tocado no soco
E o roncador é quem manda na punga
Chuva, trova, uva, vulva, luva de lutador
Figo, farinha, família, fogo no rabo e no amor
Dostoiévski, Tchaikovsky, queijo e charque, Maiakovski
Paul McCartney, Hobsbawn, Led Zeppelin, Harry Potter
Paroles com Delon, Victor Hugo, Piaf, cabernet sauvignon
Mas de tantos vícios,
Morena danada sem eira na beira da cama,
Teu cheiro é o que me faz contar os dias
Como qualquer viciado faria
Quando o tempo passa distante do vício que ama
Pinga, pingado, pisante girado na roda
Viver o carnaval das Pedreiras
Santo Antônio dos Oliveiras
Marenice chorando e dizendo meu filho, tu volta!
O gunga roncando, o viola chorando e o médio ditando a cadência
O crivador é afinado no fogo
O meião é tocado no soco
E o roncador é quem manda na punga
Chuva, trova, uva, vulva, luva de lutador
Figo, farinha, família, fogo no rabo e no amor
Dostoiévski, Tchaikovsky, queijo e charque, Maiakovski
Paul McCartney, Hobsbawn, Led Zeppelin, Harry Potter
Paroles com Delon, Victor Hugo, Piaf, cabernet sauvignon
Mas de tantos vícios,
Morena danada sem eira na beira da cama,
Teu cheiro é o que me faz contar os dias
Como qualquer viciado faria
Quando o tempo passa distante do vício que ama
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Anormal
Hoje
o dia tá estranho, alguma coisa aconteceu
Meu
mestre faltou à roda
Meu
mestre nunca falta à roda!
Toquei
uma iuna belamente
Mas
todos me olhavam de forma estranha
Peguei
o carro, o pneu dianteiro esquerdo estava vazio
Enchi-o
Como
assim alguém lê minha poesias e pensa em mim diariamente?
Totalmente
estranho
O
pneu dianteiro esquerdo estava novamente vazio
Tinha
um encontro marcado
Mas
ela estava com sono
ELA?
Quem
sente sono sou eu!
Ia
dirigindo pelo boulevard, a direção tendendo à esquerda
No
cachorro quente os adolescentes estavam sem camisa e de braços cruzados
Todos
olhando para a quadra
Atravessando
a pista às quedas outros adolescentes com garrafas e cigarros nas mãos
Cheguei
ao prédio e quase não consigo entrar
Quanta
gente parada na porta sussurrando!
Da
varanda agora vejo as luzes vermelhas e intermitentes da polícia na
quadra
Será
que mais um pulou na linha do metrô?
Será
que outro amante convidou a amada a conhecer seu apartamento do vigésimo andar
por fora da janela?
Luzes
de polícia fazem até dias normais serem estranhos
Imagina
hoje então...
Vejo
comentários feitos por um amigo de farra no PC totalmente anormais
Como
posso estar possuído pelo desejo de lhe dar um tapa na cara?
Caro
João, nesse dia especialmente estranho quero quebrar tua cara, filho da puta!
Nem
o pinho parece me aceitar direito
Dias
estranhos:
Será
que são reais,
Ou
apenas visíveis a olhos estranhamente parciais?
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Meus Sinais
No
amor, vê se interpreta,
Te
chamo “preta” só de começo
“Minha
linda”, se tu me atiça
Se “minha
querida”, não te mereço
Mas
te prepara para a verdade
O
meu “morena” é malandro
É com malícia, é com maldade
Maquiavélico, sem maquiagem
É
paixão, é ardência
É indecência, é fuleragem
É indecência, é fuleragem
Se
te mando um “beijo”,
As
coisas não vão bem
Um
“beijão” é do dia a dia
Um
“abraço” o é também
Mas
um “cheiro” é orgia
É
maldoso, não é são
Tem,
no mínimo,
Quarta intenção
É
indiscreto, é sem vergonha
É sacana, é pilantra
É sacana, é pilantra
É
filosofia tantra
É
uma carta pra cegonha
Então
te atenta se te interessa
Que eu nos sinais não disfarço.
Às vezes, finjo
que faço, mas não faço,
Entendo fingindo embaraço,
Finjo
que vejo, mas não vejo,
Mostro agrado tendo nojo.
Mas
na linguagem eu me entrego
Com o
olho eu minto, com a língua eu pago.
Então,
se um dia tu me ouvir dizer, nada ameno
“Um
cheiro bem no meio desse cangote moreno,
Morena”,
perceba logo o perigo
Ou
um dos dois vai sair ferido,
Ou
no amor faremos doutorado
Nada Acadêmico
Eu
não uso pena pra escrever
Uso
uma caneta bic, ou o Word
Ou,
se Jah quiser, o iPad que minha tia vai trazer do estrangeiro
Eu
não suspiro à toa
Não
gosto de acertar a métrica dos versos com “Ah!”, “Oh!”, “Ai...”
A
não ser que seja um
“Ah!
Vai te lascar, não aguento mais reclamação”
“Oh!
Será que aquilo é uma cobra? Oh! Oh! Oh, porra, bem ali!”
“Ai...
meu dedo ainda tá doendo da topada que eu levei na envergadura da parede”
Não
conheço donzelas, princesas, damas
Desculpa,
não conheço
Mas
se me pergunta da guria, da morena, da mulher, da minha linda, da galega
Escrevo
muito pra elas!
Se
um olho brilha, não precisa ser como a estrela
O
sorriso não precisa ser claro como o céu
Nem
o coração grande como o mar
Oxi,
o olho brilha, o sorriso é claro e o coração grande tal qual eles mesmos
Por
último, não tomo absinto nem sinto meu peito tísico
Quando
doente, tenho gripe, sinusite, dor de cabeça, uma simples ressaca ou uma
hemorragia hepática
Gosto
muito de cachaça, Skol, Bhrama, Antártica (a original então...), catuaba, tequila,
montila, vinho, ainda ontem arrochei um combo de Orloff com red Bull que
quebrou minha fatura,
Por
isso hoje escrevo sob o efeito de uma singela Bavária e de uma
tosse do cão
Esses versos insatisfeitos com a poesia ornamentada e falsa da minha geração
Esses versos insatisfeitos com a poesia ornamentada e falsa da minha geração
domingo, 8 de julho de 2012
Egocêntrico por Ignorância
“Pinto a mim mesma
porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor.”
Frida Kahlo
Queria
fazer uma poesia que tocasse todos os corações
Feito
fossem um
Cada
um se sentindo um nico
Queria
escrever uma história única e que fizesse total sentido
Feito
fosse verdade
Todos
a tocassem como quem vê rdade
Queria
eliminar de todas as minhas linhas a metalinguagem
Que
se faça a poesia
Não
se explique a feitoria!
Queria
escrever um livro em nada parecido comigo
Não
desisto da minha ode sobre a preguiça
Não
abandono minha canção sobre as revoluções
Não
desisto, não abandono e nem as faço
Pois
só sei falar de mim de mim de mim de mim de mim de mim
E
a história da capoeira, do forró, do cavaco, da Casa das Minas, do queberentã
de zomadonu
Queria
contar tantas histórias
Mas
o medo do erro recorre e me pede que se faça jus aos especialistas
Estes
nunca tem o coração tocado por canções que tocam todos
Então
falo de mim de mim de mim de mim
Eu,
me, meu, ma, mo, mim, comigo
Eis
o mote de meus escritos
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Nonato
Piauí,
menino besta.
Nasceu
no Piauí
Mas
não nasceu Piauí
Nasceu
Raimundo Nonato
E,
de fato, cresceu em Upaon-Açu
Mas
foi morar em Goiânia
Devido
ao emprego do pai
No
Itaú
Raimundim,
abestado
Foi
virar Piauí numa cadeia do Rio de Janeiro
E
pro Três Rios, pro Angra, pro da-Rocinha
Era
chamado estrangeiro
“Tu, de outro país, vem pro Vermelho!”
Dizia
o do Comando
“Vem
pro Terceiro”
Diziam
noutro bando
Mas
foi bater no subsolo,
Que, de um falo,
Não
seria nem a base das bolas
Piauí,
por besteira.
“Piauí!”,
“Foi visto!”, na refeição matinal
“Piauí”,
era o que dizia
Sua
cueca no varal
“Mas
esse tal de Piauí
Fica
em que região de São Paulo?”
Perguntou,
um dia,
O
de São Gonçalo
Raimundo
Nonato, que bosta
foi
lembrar seu nome
No
dia em que o Juiz negou o alvará
Passou
a dor na costa
Passou
a fome
São
não passou aquele cheiro de merda no ar
Piauí...
agora basta!
Se
entregou àquela condição
Agora
é líder de cela
E
espera a liberdade provisória
Pra
sair no natal
E
mandar ao juiz uma carta precatória
Alterando
sua residência
Da
Barra da Tijuca para o inferno,
Sem mais história
Sem mais história
Indigente,
vai ser festa!
Vai
subir Minas, Goiás, Tocantins,
Passar
no Maranhão, Pará, Parintins,
Voltar
pro Pará, Amapá e, por fim,
A
Guiana Francesa!
Onde
aplicará seu francês
E
a indigência terá mais beleza
Até
em casual encontro com a Federal...
Dizem
que lá tem Todinho na sobremesa!
Indigent, c'est pas qu’un rêve,
Enchanté! C’est un plaisir d'être ici!
Mais j’attends la vie se finir
Pour que je retourne au Piauí
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