Eu me abstenho de felicidade,
Me privo de qualquer vontade.
Abstraio: no abismo em que me inclino,
Quase me traio
Nesse eterno caio-não-caio.
Me entrego ao absinto pela rima,
À cerveja pelo gosto,
À cachaça pela conta,
Que essa lembrança,
Tentando não lembrar da lembrança prima
Da lembrança do meu oposto,
Nunca me desaponta.
E não me resta absolutamente esperança
De viver sem essa dependência
Que não me foge, nem se faz inteira minha.
Que me faz querer dormir em casa
Ou morrer em terra que não se conhece,
Que não se preza,
Quem sabe a Abissínia...
aaaaaaaAAAAAAAAAAAAAAAAhhhhh
Abestado que não esquece
A bosta que é não ter,
O absurdo que é não poder ter
O que se quer, por abuso, ter
Não há outro jeito que não se juntar ao Tempo,
Esse grande aliado das conformações mais abismais,
E esperar que se torne em calma
Essa fúria que tem o desejo por essência
E o gozo por intento,
Que hoje se faz, em ato, vício
E, em vontade, abstinência
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Diretamente daqui pra Ti
Eu não gosto de me dar com rapariga!
Té que é meio sem razão,
Pois é comum que aconteça,
Mas eu num gosto não!
Deve ser pelo ciúme, pelo apego
Sei lá, por ser frouxo, porém mandão
Té que parece que a noite é boa,
Mas o dia não!
Então, quando te bater carência e solidão,
(Elas hão de bater), e tu lembrar de me freqüentar,
Fique de sobreaviso se quiser se dar comigo,
Esse nego véi do Maranhão,
Que acontece de eu me dar com rapariga,
Mas eu num gosto não...
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Por aí
Eu ouvi falar de ti
Por aí
Nos corredores onde eu ando
Eu bem sei que tu só me procura
Pra ouvir falar de ti
Que tu só me quer doçura
Quando volta da loucura
À alta madrugada
E eu ouvi falar de ti
Por aí
Nos caminhos em que me embrenho
Que tu me procura às seis da manhã
Quando larga o peito
De outro amor que não deu certo
De outro gozo feito, mas malfeito
Que tu quer se encontrar em cada linha que escrevo
E pensar
Que alguém fala de ti por aqui
Mas olha que eu ouvi falar de ti
Por aí
Por onde eu me escondo dela
E sabendo que tu se procura, egoísta, em mim
Me da vontade de te mandar pegar teu ego
E enfiar no rego,
Mas, eu por mim, não gostei
Que falavam, sim,
Mas era mal que falavam de ti
Tu já bem sabe que eu ouvi falar de ti
Por aí
Onde eu torço o pescoço da guitarra e ela já não chora
E nem adianta falar que tu não tá nem aí
Que eu finjo que aceito tuas poses
Em outros corredores,
Mas aqui,
Bem sei que tu aguarda ansiosa por quem fale de ti
E que tu diga que nada quer
Que a graça é conquistar
E...
Sei lá...
Au revoir
Mas não te entristece, menina de centro no ego
Sem métrica, óptica, boa visão,
Sem muita noção,
Que, ainda assim,
Eu ouvi falar de ti
Por aí
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Breve incômodo sobre a Depressão
O que há pouco foi coisa do capeta,
Personalidade a ser combatida
No castigo, no pau, na corda,
Hoje é moda
Em tudo que é roda
Na de samba, de capoeira e na punk
O que foi poesia, base do amor platônico,
(Também, embora diferente, moda)
Hoje, de jeito irônico,
É uma forma fácil de se ser grosso, mal educado
Mas com fácil aceitação
Afinal, é muito melhor ser-se um escroto
E no dia seguinte alegar
"Culpa da serotonina"
Trazendo consigo o aval da medicina,
Do que dizer
"Perdão, eu sou um escroto"
E baixar um pouco a crina
Para melhor convívio
Com os que te querem a amizade
Apesar do excesso de escrotinina
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Vizinhos da Frente
Ele deve ter uns setenta e não sei quantos,
Ela, uns sessenta e tantos anos,
Embora no seu prontuário mais recente
Deva estar escrito "idade aparente
Não compatível com a referida"
Ela tem um cachorro desses de apartamento
Que se criam pra cagar nos jardins,
Ele tem um gato gordo
E é do Tocantins,
Pelo que me disse a Rita, sua sobrinha,
Quando me fez uma visita
Ele mora no quarto andar e está na varanda fumando
Quando acordo às seis da manhã,
Ela habita o quinto e, se vê,
Madrugou com o cigarro na mão pegando fogo
Ela de pé,
Ele sentado,
Se preparam para o dia longo
Ela, há anos, traga a fumaça que já se tragou no caminho
No corpo dele que, há anos, fuma sozinho
Ele limpa, há anos, diariamente, a cinza da varanda
Que, há anos, cai do cigarro dela, indiferente
Ele talvez pule da cama cedo para lembrar
Dos seus tempos de piração e loucura,
Quando andava mal acompanhado, nunca só,
E tudo era farra, cana e pó
Ela, quem sabe, acorde cedo para odiar, como ontem odiou,
Aquele maldito e último amor,
Que lhe gozou e foi-se embora, e consigo sua alegria,
Que lhe amputou, lhe deixou a apatia
Ela, a vi há um ano,
Amanheceu um dia sem os cabelos,
Ele, não o vejo há um ano,
Não mudou em nada os gestos
Quem sabe se encontraram no elevador,
Ele lhe jurou amor, ela foi pro Tocantins,
Ou, sabe lá, até ficaram afins,
Mas havia tanto menino e gritaria,
Que nem se deram bom dia
Sei que hoje quem fuma no quinto andar
É uma mulher de aparentes trinta anos, filha dela,
E do quarto nicho já nada sei,
Que há um blindex na janela.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Insônia
Nem vou fingir que dormi noite passada
De tão cansando que ando
De andar sendo tu na minha cabeça
De andar interpretando teus passos
Não finjo que dormi após te ver
Dependura nos lábios de outro
Que nem ao menos me é
Que nem ao menos eu sou
Não vou fingir que dormi, pois não dormi
E só sei que acordei num pulo
Te estapeando, materializando meu ódio por ti
E tu nem aí,
Como pode uma obra de sonho não sentir dor?
Não dormi que era teu rosto
Na minha reta a noite inteira
E demorei uns minutos pra voltar à minha rede
Após perceber que eu estapeava o Bob Marley
Desenhado na bandeira
Que se dependura na parede
Pra não dizer que eu não fui sincero, feliz aniversário
Meu caro amor,
Ando pensando em te dizer
Como me amarga te ver feliz,
Dizer que meus gestos de desprendimento
Tem o desprezo por intento
Que eu te quero infeliz ao meu lado
Ou feliz num convento,
Que o meu desapego
É um não pedir arrego
À vida de Deus me impôs
Por intermédio dos meus pais
Meu longo amor,
Me incomoda ir e voltar
E te ver manter a bunda no lugar
Não mexer uma fibra muscular para fugir de mim
Como eu rebolei da unha encravada do mindinho
À última ponta dupla dos meus mullets
Gritado "mulher, cala-te!"
Me retorci
Para não te ver sorrir
A uma EPTG daqui
Meu antepenúltimo derradeiro amor,
Queria te dizer,
Mas pra te fazer chorar, não pra rir, viu?!,
Que não é possível eu me dispor
A cultivar com tanto carinho
O ódio
Regá-lo no torpor
Cobri-lo de amargura
Cuspir nas folhas fel
Sugar cada gota de mel
Fazê-lo feder a bosta
Podar-lhe o que presta
E por tudo a perder ao mais ligeiro olhar
Dessa tua pele que eu nunca vi outra igual
Dessa tua boca que sugou tanto meu
mal
E que desencravou a bandeira de sua pátria
Para, assim, se encontrar ao lado de outro
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Viagem
O vento lapida meu cigarro
Ponta de lança em brasa
Em guerra contra o fazer nada
Me abraça a fumaça os pêlos
E o vento espanca meus cabelos
A mão de fora da janela
Se dispõe a segurar o ar
Uma bola de ar
Se dispõe a provar que o ar
É matéria
Luzes de três tons que se dependuram
Nas orelhas do celeste
Serão uma estrela, uma torre, um rabo de avião,
Um brinco de Deus,
Ou um piercing na sobrancelha de Morfeu?
Feito um coágulo
Eu cruzo as veias negras do País
Que se encontram e se desencontram
E me desencontram
E eu tenho medo de me achar
E nunca mais me perder
É praxe a aceleração constante
É prazer se sentir cada vez mais distante
Da solidão
E é tanto medo, que o caminho que leva pra longe
Se separa da volta por uma simples linha
Intermitente
O retorno é certo, a linha é reta
E o medo constitui a alma dessa cidade de solidão
Que se afasta
Que se faz de morta
sábado, 29 de setembro de 2012
Tua Mania
Fica tu com tua mania
De gostar
De quem não gosta de ti
Tu que, da paixão em semente,
Cultiva, por trigo, o amor aparente
E colhe, seletiva, o desprezo por pão
Tu que cata aflita dos sorrisos
De quem pra ti é tudo
E dos que não são ninguém
Resquícios de desdém
Tu que lança por isca
Teu olhar
E deseja qualquer caça que por acaso
Te ignorar
Fica tu com tua mania
De gostar
De quem não gosta de ti
E fica enfim
Infeliz ou só
Sendo assim
De gostar
De quem não gosta de ti
Tu que, da paixão em semente,
Cultiva, por trigo, o amor aparente
E colhe, seletiva, o desprezo por pão
Tu que cata aflita dos sorrisos
De quem pra ti é tudo
E dos que não são ninguém
Resquícios de desdém
Tu que lança por isca
Teu olhar
E deseja qualquer caça que por acaso
Te ignorar
Fica tu com tua mania
De gostar
De quem não gosta de ti
E fica enfim
Infeliz ou só
Sendo assim
domingo, 23 de setembro de 2012
Cu
Cu,
Olho único da face caolha da bunda,
Não importa em que direção aponta
Nunca é chamado zarolho por afronta,
Por ser só na sua jornada quente e úmida
Cu,
Massa orgânica retraída e tímida,
Sedenta por fricção,
Que tem seu prazer estirpado
Por preconceito e discriminação:
Cada um quer o cu do próximo, de fato,
Com a contradição de manter o seu próprio
Em eterno celibato
Cu,
Anel carnal que celebra o auge da intimidade.
À aliança de ouro, se reservam o anelar, o bolo, os fogos;
Ao anel do cu, só cuspe e o dedo médio, o Maior-de-todos.
És, em verdade, cu,
Romântica ampola que por amor se esfola
Só pedindo o descanso póstumo em troca,
Romântico tolo
Cu,
Órgão que Deus primeiro deu
Aos deuterostomados,
Que reservam à tua filha, a boca,
Escova, pasta, listerine, bala de menta,
E a ti, quando muito,
Papel limpador de merda.
Mas, pensemos: sendo deuterostomos,
Obra do barro de Deus
É o que poderíamos ser;
Proliferação celular do cu
É o que de fato somos
Cu,
Vaso representante da alta tecnologia da natureza,
Que, com sua beleza cilíndrica e seu trio de pregas,
Separa o gás, o líquido e o sólido,
O flátulo em vento e os dejetos em postas
Deixando, ao peido, insignificantes átomos de bosta
Cu,
Dedico a ti esta singela poesia
Que se tornará uma ode afinal
Quando, com base no toque retal,
Eu me dedicar um dia
Ao estudo aprofundado da proctologia
Com todo o meu apego,
Um sincero beijo grego
Olho único da face caolha da bunda,
Não importa em que direção aponta
Nunca é chamado zarolho por afronta,
Por ser só na sua jornada quente e úmida
Cu,
Massa orgânica retraída e tímida,
Sedenta por fricção,
Que tem seu prazer estirpado
Por preconceito e discriminação:
Cada um quer o cu do próximo, de fato,
Com a contradição de manter o seu próprio
Em eterno celibato
Cu,
Anel carnal que celebra o auge da intimidade.
À aliança de ouro, se reservam o anelar, o bolo, os fogos;
Ao anel do cu, só cuspe e o dedo médio, o Maior-de-todos.
És, em verdade, cu,
Romântica ampola que por amor se esfola
Só pedindo o descanso póstumo em troca,
Romântico tolo
Cu,
Órgão que Deus primeiro deu
Aos deuterostomados,
Que reservam à tua filha, a boca,
Escova, pasta, listerine, bala de menta,
E a ti, quando muito,
Papel limpador de merda.
Mas, pensemos: sendo deuterostomos,
Obra do barro de Deus
É o que poderíamos ser;
Proliferação celular do cu
É o que de fato somos
Cu,
Vaso representante da alta tecnologia da natureza,
Que, com sua beleza cilíndrica e seu trio de pregas,
Separa o gás, o líquido e o sólido,
O flátulo em vento e os dejetos em postas
Deixando, ao peido, insignificantes átomos de bosta
Cu,
Dedico a ti esta singela poesia
Que se tornará uma ode afinal
Quando, com base no toque retal,
Eu me dedicar um dia
Ao estudo aprofundado da proctologia
Com todo o meu apego,
Um sincero beijo grego
sábado, 22 de setembro de 2012
No Corredor da Faculdade
As nutriçãs com suas maçãs
E seus grãos desconhecidos
Primos da linhaça e do de bico
Os dentiários sempre hilários
Dispostos a mostrarem os sorrisos
Recém tratados a cerdas e fios macios e lisos
Os farmaciríneos nada sabem de peritôneos e períneos
Passeando a se perguntar
Quando foi que selecionaram química no vestibular
As enfermerícias com revoltas um tanto postiças
Preparadas para afrontar cheias de razão
Qualquer sistema que não lhes caiba à mão
Os medicinígens, quase todos virgens,
Pisando, como fossem donos, o chão
Sem saber que o que sabem provém de ilusão
E seus grãos desconhecidos
Primos da linhaça e do de bico
Os dentiários sempre hilários
Dispostos a mostrarem os sorrisos
Recém tratados a cerdas e fios macios e lisos
Os farmaciríneos nada sabem de peritôneos e períneos
Passeando a se perguntar
Quando foi que selecionaram química no vestibular
As enfermerícias com revoltas um tanto postiças
Preparadas para afrontar cheias de razão
Qualquer sistema que não lhes caiba à mão
Os medicinígens, quase todos virgens,
Pisando, como fossem donos, o chão
Sem saber que o que sabem provém de ilusão
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Encontro Casual
_Meu quirido! Há quanto tempo!
_Não vou fingir que lembro.
_Não finja, que eu não finjo que acredito.
_Fica o não dito por dito.
_Fato!
E a vida?
_Uma merda.
_Acontece, merda
É o que o homem mais produz na vida,
Às vezes inconveniente,
Às vezes aguardada
Mas sempre certa.
Às vezes mole,
Às vezes dura,
Normalmente torta
_A minha anda dura, fedida e morta.
A vida, quero dizer.
_Sempre há o que se fazer.
Cadê os amores?
Não tem em mente uma menina?
_Uma em cada esquina!
Mas não me querem ter.
_Não pode ser!
Já notei os olhares das que passam,
Quase te abraçam!
É bonito, gente fina, músico!
_Pois é, tentei culpar o físico,
A grana, a forma do pinto, o humor amargo
Os vícios fartos, o ciúme, o narigão.
_E a conclusão?
_Sou um saco...
_Um saco... tipo... escrotal?
_Sim, dos que passeiam debaixo do pau.
_Não pode, te vejo desenvolto, sempre risonho.
_No íntimo ando tristonho, mal humorado, sem paciência.
_Não é paciente por essência?
_Não, já não quero construir algo de que sei o caminho:
Primeiro os olhares, depois o charme,
Cada um finge que vive bem sozinho,
O ciúme a conta gotas, o desprezo medidinho,
A trepa, a semana sem ligar,
Enfim o jantar romântico em que se fazem os acordos.
_E tu, que tem feito?
_Já chego rasgando o peito!
Ora, se sei que me deseja, se sabe que é desejada,
Por que não se entregar de mão beijada?
_Meu caro, nada se constrói do fim.
_Não ligo, continuo sendo assim.
_E aquela que tu me apresentou certa vez?
_Anda se dando com um francês...
_Que pena, estás de luto?
_Que nada, é feio pra caralho!
Deve ser roludo....
_E o que isso tem a ver? Por que tens que ser o melhor em tudo, enfim?
_É que eu só amava o amor dela por mim.
_O que tu pretende fazer? Tem algo em mente?
_Aguardo um milagre vir pela internet!
_Tem conferido?
_Diariamente!
_Sorte tua ter os amigos.
_Aprendi na minha trilha
Que não existe outro amigo que não a família.
_Sabe a nossa diferença?
_O forte da minha presença é a sinceridade!
_Eu diria a educação,
Que eu estou tão interessado na tua vida
Quanto tu de me esconder a verdade.
_Penso que não, somos parte do mesmo cidadão.
_Somos filhos então da mesma falsidade.
_Acho que sim, um grande abraço! Saudade!
_Citar o abraço é pra ligação, me dê um de verdade!
_Até a próxima!
_Antes tarde que mais tarde.
_Até mais tarde, então.
_Não vou fingir que lembro.
_Não finja, que eu não finjo que acredito.
_Fica o não dito por dito.
_Fato!
E a vida?
_Uma merda.
_Acontece, merda
É o que o homem mais produz na vida,
Às vezes inconveniente,
Às vezes aguardada
Mas sempre certa.
Às vezes mole,
Às vezes dura,
Normalmente torta
_A minha anda dura, fedida e morta.
A vida, quero dizer.
_Sempre há o que se fazer.
Cadê os amores?
Não tem em mente uma menina?
_Uma em cada esquina!
Mas não me querem ter.
_Não pode ser!
Já notei os olhares das que passam,
Quase te abraçam!
É bonito, gente fina, músico!
_Pois é, tentei culpar o físico,
A grana, a forma do pinto, o humor amargo
Os vícios fartos, o ciúme, o narigão.
_E a conclusão?
_Sou um saco...
_Um saco... tipo... escrotal?
_Sim, dos que passeiam debaixo do pau.
_Não pode, te vejo desenvolto, sempre risonho.
_No íntimo ando tristonho, mal humorado, sem paciência.
_Não é paciente por essência?
_Não, já não quero construir algo de que sei o caminho:
Primeiro os olhares, depois o charme,
Cada um finge que vive bem sozinho,
O ciúme a conta gotas, o desprezo medidinho,
A trepa, a semana sem ligar,
Enfim o jantar romântico em que se fazem os acordos.
_E tu, que tem feito?
_Já chego rasgando o peito!
Ora, se sei que me deseja, se sabe que é desejada,
Por que não se entregar de mão beijada?
_Meu caro, nada se constrói do fim.
_Não ligo, continuo sendo assim.
_E aquela que tu me apresentou certa vez?
_Anda se dando com um francês...
_Que pena, estás de luto?
_Que nada, é feio pra caralho!
Deve ser roludo....
_E o que isso tem a ver? Por que tens que ser o melhor em tudo, enfim?
_É que eu só amava o amor dela por mim.
_O que tu pretende fazer? Tem algo em mente?
_Aguardo um milagre vir pela internet!
_Tem conferido?
_Diariamente!
_Sorte tua ter os amigos.
_Aprendi na minha trilha
Que não existe outro amigo que não a família.
_Sabe a nossa diferença?
_O forte da minha presença é a sinceridade!
_Eu diria a educação,
Que eu estou tão interessado na tua vida
Quanto tu de me esconder a verdade.
_Penso que não, somos parte do mesmo cidadão.
_Somos filhos então da mesma falsidade.
_Acho que sim, um grande abraço! Saudade!
_Citar o abraço é pra ligação, me dê um de verdade!
_Até a próxima!
_Antes tarde que mais tarde.
_Até mais tarde, então.
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Choveu
Choveu!
O peito colabado já não suportava
A seca a fumaça o tempo opaco
A indiferença
Choveu!
Tinha aquele olhar extasiado
Desde que o amor se acabou
O olhar que não ri nem chora
E não quer ir embora
Olhar de tempo cinza
Choveu!
Vinha correndo na madrugada
No carro empoeirado
No peito, o suor da angústia
E uma gota anunciou
Choveu!
Chorou!
Era água e água e água
O carro se afundando
No peito uma inundação
Gritava feito menina de colo
Choveu!
Chorou!
A noite amarela da cidade, nos olhos, embaçada
O cheiro de terra molhada
Tal qual a terra da casa em que nunca morou
Que existia nas memórias da infância
Memória, essa filha primeira da imaginação
Choveu!
Chorou!
A boca arregaçada
O parabrisa melado de lama
O nariz melado
A garganta apertada, as veias saltando
Choveu!
Chorou!
Sorriu!
Pois a água era a prova de que
Naquele corpo fraco, suado,
Capaz de chorar e de chover,
Tremendo de frio,
Ainda era o amor quem reinava
O peito colabado já não suportava
A seca a fumaça o tempo opaco
A indiferença
Choveu!
Tinha aquele olhar extasiado
Desde que o amor se acabou
O olhar que não ri nem chora
E não quer ir embora
Olhar de tempo cinza
Choveu!
Vinha correndo na madrugada
No carro empoeirado
No peito, o suor da angústia
E uma gota anunciou
Choveu!
Chorou!
Era água e água e água
O carro se afundando
No peito uma inundação
Gritava feito menina de colo
Choveu!
Chorou!
A noite amarela da cidade, nos olhos, embaçada
O cheiro de terra molhada
Tal qual a terra da casa em que nunca morou
Que existia nas memórias da infância
Memória, essa filha primeira da imaginação
Choveu!
Chorou!
A boca arregaçada
O parabrisa melado de lama
O nariz melado
A garganta apertada, as veias saltando
Choveu!
Chorou!
Sorriu!
Pois a água era a prova de que
Naquele corpo fraco, suado,
Capaz de chorar e de chover,
Tremendo de frio,
Ainda era o amor quem reinava
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Amor Livre
Amor livre é querer amar em paz?
Querer amar um, junto com outro mais?
Será dar-se à toa numa folia?
Amar de uma vez a moça e o rapaz?
Penso que é paz ser amado em troca
Que tem sua graça se dar à orgia
Que o mais belo "dar-se" é o da boemia
Que amor de gente sempre é amor val
Mas não me leve a mal, meu caro amigo,
É só do teu tempo o amor proibido
Teu tanto amar é amar quase tudo
Pois, quando estiveres velho, barrigudo,
Tu hás de querer a paz dos contratos
Como os contratos te hão de querer mudo
Querer amar um, junto com outro mais?
Será dar-se à toa numa folia?
Amar de uma vez a moça e o rapaz?
Penso que é paz ser amado em troca
Que tem sua graça se dar à orgia
Que o mais belo "dar-se" é o da boemia
Que amor de gente sempre é amor val
Mas não me leve a mal, meu caro amigo,
É só do teu tempo o amor proibido
Teu tanto amar é amar quase tudo
Pois, quando estiveres velho, barrigudo,
Tu hás de querer a paz dos contratos
Como os contratos te hão de querer mudo
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Seja Malvindo
Seja muito malvindo
E volte o quanto antes ao teu país
Veja que somos capoeiristas
E podes, em um golpe de vista,
Atingir nosso pé com teu nariz
Seja malvindo e volte sempre
À tua terra, não à minha
Que nunca compreenderás com o dicionário
O que faz nosso imaginário
Chamar "ma mère" de mãínha
Malvindo sejas à minha nação
Que se estende da Bahia ao Maranhão
E que não te convida a ser espectador
Das nossas belezas e misérias.
Nada saberás dos batuques de tambor em tuas férias,
Para ti, cantor será sinônimo de cantador
Não te serviremos de fotografia
Não gozarás da nossa folia
Não te treparemos num andor
Seja malvindo e não volte
Pois, quando sentires saudades,
Nós é que visitaremos tuas cidades
E levaremos bananas para os teus macacos.
Riremos do jogo de péla,
Que também não compreenderemos,
Enrabaremos tuas donzelas,
Se é que não já as comemos
E defecaremos na tua água.
Hoje és alazão, amanhã égua
Não te agonia, não guardamos mágoa
Seja malvindo e perdoa
Se cismei mais que pude,
Somos assim sem vergonha
Tocamos cavaco, não alaúde
Não somos nem nunca seremos nobres:
Um tanto esquerdistas no mapa Mundi,
Temos uns trinta nomes para vagina
Uns vinte para menina
Uns quinze para bolinha de gude.
Desculpa o português roto
Meio jeje, meio bantu, meio tutsi
Mas fica o recado dessa nação pobre
E um tanto podre:
Va te faire foutre!
E volte o quanto antes ao teu país
Veja que somos capoeiristas
E podes, em um golpe de vista,
Atingir nosso pé com teu nariz
Seja malvindo e volte sempre
À tua terra, não à minha
Que nunca compreenderás com o dicionário
O que faz nosso imaginário
Chamar "ma mère" de mãínha
Malvindo sejas à minha nação
Que se estende da Bahia ao Maranhão
E que não te convida a ser espectador
Das nossas belezas e misérias.
Nada saberás dos batuques de tambor em tuas férias,
Para ti, cantor será sinônimo de cantador
Não te serviremos de fotografia
Não gozarás da nossa folia
Não te treparemos num andor
Seja malvindo e não volte
Pois, quando sentires saudades,
Nós é que visitaremos tuas cidades
E levaremos bananas para os teus macacos.
Riremos do jogo de péla,
Que também não compreenderemos,
Enrabaremos tuas donzelas,
Se é que não já as comemos
E defecaremos na tua água.
Hoje és alazão, amanhã égua
Não te agonia, não guardamos mágoa
Seja malvindo e perdoa
Se cismei mais que pude,
Somos assim sem vergonha
Tocamos cavaco, não alaúde
Não somos nem nunca seremos nobres:
Um tanto esquerdistas no mapa Mundi,
Temos uns trinta nomes para vagina
Uns vinte para menina
Uns quinze para bolinha de gude.
Desculpa o português roto
Meio jeje, meio bantu, meio tutsi
Mas fica o recado dessa nação pobre
E um tanto podre:
Va te faire foutre!
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Reflexão
Hoje fui à praça dos poderes,
Me sentei perto daquela cabeça enorme do Jucelino
E fique feito menino
Jogando pipocas cor de rosa ao pombos
O tempo passando
Os carros passando
Turistas passando
O vento passando
A vida passando
Eu pensando
Pensando
Pensando
Será que os pombos,
Que só andam pulando,
Não rompem o menisco do joelho?
E no mundo miséria, guerra, tragédia,
Dilma, Lula, Collor, Maluf, Sarney,
Quanta gente boa no mundo
Honestino, Guevara, Herzog, Mahatma
Chico, Gil, Bethânia, Caê, Gal,
Quanta gente ruim também
E eu olhando
Olhando
Olhando
As coxas dos pombos
Será que a sobrecoxa realmente fica
Sobre a coxa?
E o sobrecu?
A Iugoslávia, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
O império Austro-húngaro, a Indochina
Burkina Faso, Etiópia, Zion, Lyon,
Angola, Benguela, Banguela, São Bento Grande, Pequeno, Iúna,
As asas da graúna
Será a coxa da asa parte da asa ou da coxa?
Talvez se fosse da coxa seria asa da coxa
Casamento gay, maconha, aborto, ONGs,
Greenpeace, yellow, blue,
Because the sky is blue, it makes me cry,
O céu azul sobre o mar
E eu pensando
Pensando
Pensando
Tentando não pensar
Se tu um dia vai voltar
Me sentei perto daquela cabeça enorme do Jucelino
E fique feito menino
Jogando pipocas cor de rosa ao pombos
O tempo passando
Os carros passando
Turistas passando
O vento passando
A vida passando
Eu pensando
Pensando
Pensando
Será que os pombos,
Que só andam pulando,
Não rompem o menisco do joelho?
E no mundo miséria, guerra, tragédia,
Dilma, Lula, Collor, Maluf, Sarney,
Quanta gente boa no mundo
Honestino, Guevara, Herzog, Mahatma
Chico, Gil, Bethânia, Caê, Gal,
Quanta gente ruim também
E eu olhando
Olhando
Olhando
As coxas dos pombos
Será que a sobrecoxa realmente fica
Sobre a coxa?
E o sobrecu?
A Iugoslávia, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
O império Austro-húngaro, a Indochina
Burkina Faso, Etiópia, Zion, Lyon,
Angola, Benguela, Banguela, São Bento Grande, Pequeno, Iúna,
As asas da graúna
Será a coxa da asa parte da asa ou da coxa?
Talvez se fosse da coxa seria asa da coxa
Casamento gay, maconha, aborto, ONGs,
Greenpeace, yellow, blue,
Because the sky is blue, it makes me cry,
O céu azul sobre o mar
E eu pensando
Pensando
Pensando
Tentando não pensar
Se tu um dia vai voltar
sábado, 1 de setembro de 2012
Da Tristeza
A tristeza tem seus sons e tons
Não se há de negar em gênero, grau ou qualidade
Que é um tanto azulada a tristeza
Da saudade;
E o vermelho ardente?
O vermelho sangue, daqueles que escorrem das imagens sacras?
O vermelho da punjança que acompanha a tristeza
Da vingança;
E é cinza por prévia sentença a tristeza
Da indiferença
É do dia quente, seco e opaco
O ar parado que não geme nem perturba a audição
Na tristeza indiferente;
É uma brisa que remete ao mar
E que goza nos ouvidos
Os ventos destemidos da tristeza saudosa;
E é um tufão, uma labareda gritando nas orelhas
O gemido insuperável, inabafável da ativa
Tristeza vingativa
Mas antes a vingança em atividade
Que o cinza angustiante da apatia;
Antes o roxo venoso e um tanto venenoso
Que atormenta a flor da idade da saudade
Que a vingaça em si limitada em afasia;
Antes tons coloridos de tristeza
Que semitons por esmola de alegria.
domingo, 19 de agosto de 2012
Do Banzo
Banzo é o estado de ânimo
Daquele que se encontra enzambuado
Seja ateu ou bento
Pode ser branco ou bantu
Com o mundo ou um chinelo de poupança
O banzo não escolhe credo, cor ou finança
Enzambuado é o sujeito arreliado
Que não quer saber de furupa ou furdunço
É farnizim
Dos saudáveis, é o mais próximo do finado
Dos moribundos, é o que mais aguarda o fim
Furdunçu é fuzarca
É estado de ânimo exaltado
É boi de matraca
É carnaval
É cachaça, é maizena na piscina
Furdunço é carnaval!
Banzo é quarta feira de cinzas
E toda segunda feira
Consiste em espaço de tempo que despreza o banzo do enzambuado.
Que pise o pano de costela essa carnificina!
Que suba nas ancas e cuspa encima!
Que venha a segunda em sua ânsia e febre!
Mas nos deixando a felicidade de dizer
"tu é segunda e nunca será primeira
Que primeira é domingo, dia do homem alegre!"
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Já Deu
Tu diz que vai, mas nunca parte
Tu é um terço da minha vida
Eu sou dois terços
Da tua vaidade
Tua brincadeira já nem disfarça
Mas veja que a menina que deixou de mamar
É desmamada
E tu, que deixou de ter graça?
Desalmada, tu que escolheu
Eu nem queria, mas ainda te dei uma escolha
Pois vá lá ouvir berimbau de sotaque gaulês
Que o meu ainda tem o cheiro canalha
De terra seca e de orvalho na folha
Ainda que não soe tão bem desde que tu fez
A cabaça quebrar com tua ginga falha
Mas perceba que quem torna tudo em amor
É amável
E tu, que me tornou em miséria?
Maleável, te enrigece as decisões
Me deixa em paz, fica na tua
Tu me quer como amigo
Eu te quero nua
Tu me quer atrás de ti
Eu também quero, mas não bem assim...
Tu quer meu peito num prato
Como eu te quero? De fato!
Note, porém que a velha que está prestes a morrer
É moribunda
E tu, que vive no mundo a vagar?
Desafunda! Que eu ainda estou submerso
Mas teu rio não é bem o mar que eu mereço
sábado, 11 de agosto de 2012
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
terça-feira, 7 de agosto de 2012
Regresso do Nonato
Tantos meses de volta a esse apartamento, tudo arrumadinho, um pouco de poeira, uma ou duas lâmpadas queimadas, uma descarga com defeito. Mas na chegada não foi assim. A limpeza do apartamento era tanta que, ao entrar, tive uma incontrolável vontade de lamber o chão. As lâmpadas queimadas eram tão belas, sem fios à mostra, tinham até um botão para ligar e desligar. Era só ir à venda da rua seguinte comprar outra lâmpada e botar no lugar das queimadas. IR À VENDA DA RUA SEGUINTE, tão simples que quase me faz chorar. E a descarga quebrada? Em nada se compara com aquele buraco onde urinávamos e defecávamos todos ao som dos costumeiros gritos "muita água nesse boi", "desce regando", "desce junto!", e onde colocávamos uma garrafa de coca cola cheia d'água para impedir que os ratos subissem.
Tantos meses de volta, deixam a gente besta, fazem a gente pensar que nessa nossa vida alguma coisa é séria. A gente pára pra pensar em paixões cinematográficas, dramáticas, analisa cada frase e gesto do passado, tentando entender porque o amor não deu certo. Pensa que tem amigos. Pensa que o trabalho deve ser o complemento da alma, a felicidade total. Por onde será que entram essas idéias nesse apartamento? Deve ser pela TV...
E aí vem a lembrança do que se passou. Uma simples sentença. "O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro lhe quer de volta em seus braços". Com essas palavras não é difícil lembrar aquela noite em que tudo o que eu queria era subir o Brasil como um indigente, deixar essa vida perseguida para trás. É fácil lembrar que os únicos amigos são o pai, a mãe, os irmãos, uma ou outra tia. E são essas as paixões também. Talvez inventemos outros amores porque os pais um dia devem morrer e o peito tem medo de frio. Pois lhe garanto, depois desse dia, o peito vive de frio, ainda que esse mimetise calor. E o trabalho, fiquem vocês com a felicidade do escritório, meu trabalho será pelo dinheiro.
Tantos meses de volta a esse apartamento fazem a gente se acostumar a reclamar de coisa pouca. O café tem até ponto certo. Vê só, num dia a questão é "será que hoje tem café", ou "será que esse café tem café", de repente passa a ser "será que esse café está no ponto". E o café que agora bebo um pouco mais amargo do que o que me apraz me faz pensar que a liberdade é algo de que nada sabem os livres. Assim como de nada sabem da saúde os saudáveis, até que o doutor nos diz "meu filho, isso aqui ou é poeira no tomógrafo ou é um tumor no teu cérebro". Aí o saudável começa a sentir saudade da saúde: a saudade é póstuma. Aí o livre sente falta da simplicidade de ir comprar uma lâmpada na venda da rua seguinte.
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Mulher da Minha Vida
Quando resolvestes partir
Olhei para ti e disse se vá!
Não leve a lembrança do meu cheiro
Nem o gosto dos meus beijos
E não olhe para trás
Pois sei morena
Que tu és faceira e danada
Dás mais umbigada que coreira
És mais indigesta que feijoada
Sei que não ficarás um só dia
Distante da orgia
Do tesão compartilhado
Pega, morena, tua putaria
E saia do meu lado!
Partistes de mim
Vous êtes allé à Paris
Meu coração foi condenado
No primeiro mês, chorei
No segundo, me embriaguei
No terceiro, chorei embriagado
Mas um dia o meu cd
Do Amado Batista ralou
Eu, sem ter o que fazer,
Fui ao Parque da Cidade
Sentado perto dos isqueitistas
Ouvindo com cara de turista
Aquele roque andergraunde
Vi uma velha de guarda chuva
Com carinha de viúva
Dando pipoca aos macacos
O que todos achavam tão bonito,
Eu enxerguei aflito
Naquele exato momento
Pois, para mim, teu amor era a velha
Jogando migalhas
Aos meu sentimentos
Resolvi te esquecer
E matar a velha do teu amor
Que residia no meu peito
Fiz as pazes com a orgia
Fiz de mim o meu senhor
Vi meu amor desfeito
Estava tudo preparado
Te encontrar pela vida
E te desprezar, minha querida,
Seria o último ato
E foi numa esquina de Julho
Que te vi sorridente
Vindo ao meu encontro
Pus as mãos nos quadris
Meus olhos nada gentis
Meu desprezo estava pronto
Foi quando eu vi
Sobre tua morena fúrcula
Um broche em coração
Que dizia mon amour
Sobre a foto de um francês
Com cara de alemão
Olhei-te sério, enojado
Com o queixo empinado
E tez de dama mal comida
E falei-te claramente
"Dá-me agora um beijo
Mulher da minha vida!"
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Corda Mi
O primeiro violão da minha memória passou na minha mão aos quatro anos. Pra infelicidade do tocador. Em meio àquele salão do clube da cidade, eu me escondi de baixo da mesa de sinuca e vi ao lado aquele violão, tão grande que eu nem pensava em segurar ele. Quase maior que eu. E numa atitude que hoje chamo de filhadaputagem, torci as tarraxas esperando ouvir uma música, como quando eu torcia os botões do microssistem pra fazer tocar meu cd dos mamonas. Não saiu música, e acabou-se a memória aí.
O segundo violão que me marcou veio depois do show do meu tio. Era trinta de julho de mil novecentos e noventa e oito. Tinha oito anos. E até os onze, só acreditei que dele saía música porque meu tio tocou uma canção ao me dar o pinho.
Aos onze aprendi a tocar. Eu queria mesmo era fazer aula de desenho, mas porra... Tio Zeca me deu aquela viola, sacanagem... Fui lá, aprendi.
"Maranhão, deixa de ser nerd cara, na nossa idade a gente tem mesmo é que ouvir rock, ou pagode, que seja. Mas essas tuas músicas é só pra quando a gente já tiver perdido o ânimo". Dizia o guitarrista do colégio. Devia ter razão, até hoje meu gosto poderia ser avô do gosto da galera. Só sei que eu tinha um acordo com a mãe de que ela me daria uma sanfona se eu entrasse num esporte e fizesse um regime. Hahaha, que merda, entrei na capoeira por causa da música. Mas, voltando, troquei o acordo de sanfona pra guitarra. O regime veio aos quinze anos, por causa de uma mulher. A guitarra, aos catorze, porque mãe é mãe. Sei que dela saíram alguns meses de rock, alguns fins de semana de reggae e anos de roupa pendurada, como hoje está.
Quase enlouqueço com a percussão da capoeira. Quase piro com os tambores maranhenses. Quase choro, ou choro mesmo, com os forrós de fundo de quintal na casa da vó.
Me veio um berimbau, uma gaita de onde ainda não sai música, um cajon, entre outros esquecidos. E o novo ar da minha vida, o cavaquinho.
Mas isso tudo é pra contar que eu tenho uma loucura absoluta na vida, que são os instrumentos musicais. Não posso ver um que saio contando as cordas, olhando a madeira, o couro, as reentrância, as pinturas, enfim, um monte de coisa. E na tua canção de um amor sozinho tem uma mulher segurando um violão. E nesse violão tá faltando uma corda, a corda mais grave, a corda Mi. É um violão de cinco cordas. Engraçado, é a corda que eu mais toco, adoro sons graves, como o roncador do tambor de crioula, o berimbau gunga, o baixo e a corda Mi do violão. Às vezes a gente tem escolhas e nem sabe como é carregada de coisas importantes para outras pessoas, por mais que não se queira nesse momento um violão sem a corda Mi. Adoro sons graves, são tão vadios. Obrigado por cada poesia tua. Mas eu guardo uma caixa de cordas Mis vadias no meu latíbulo, vadias como eu mesmo. Obrigado por cada poesia tua e por tua paixão.
domingo, 29 de julho de 2012
Tira-gosto de Domingo
Mãe chegou da ilha!
Ô saudade da velha
E veio trazendo num isopor
Com uma tipóia
Um camarão fresquim de Tutóia
Pai trouxe um limão da Trizidela do Vale
Daqueles amarelos e pequenos
Que não se encontram cá por esses terrenos
Fazendo inveja ao cerrado de vermelha pele
Pois em terra de rolinha e de assum
São chamados de limão comum
E o limão do véi se juntou com o camarão da véa
E a coisa ficou feia:
Chorar com saudade da Trizidela não é novidade
É minha mazela
Mas chorar com saudade de Tutóia?
Terra que eu não conheço o cheiro
Nem sei a cor da praia!
A coisa ficou feia...
Mas o negócio desandou mesmo, lhe falo,
Quando papai botou um fio de azeite Galo
Pra diminuir o gosto de sal
E no meio do samba de domingo
Eu derramei duas lágrimas
Com saudade de Portugal!
Ô saudade da velha
E veio trazendo num isopor
Com uma tipóia
Um camarão fresquim de Tutóia
Pai trouxe um limão da Trizidela do Vale
Daqueles amarelos e pequenos
Que não se encontram cá por esses terrenos
Fazendo inveja ao cerrado de vermelha pele
Pois em terra de rolinha e de assum
São chamados de limão comum
E o limão do véi se juntou com o camarão da véa
E a coisa ficou feia:
Chorar com saudade da Trizidela não é novidade
É minha mazela
Mas chorar com saudade de Tutóia?
Terra que eu não conheço o cheiro
Nem sei a cor da praia!
A coisa ficou feia...
Mas o negócio desandou mesmo, lhe falo,
Quando papai botou um fio de azeite Galo
Pra diminuir o gosto de sal
E no meio do samba de domingo
Eu derramei duas lágrimas
Com saudade de Portugal!
sexta-feira, 27 de julho de 2012
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Dos Vícios
Café preto, chocolate amargo, abraço de mãe
Pinga, pingado, pisante girado na roda
Viver o carnaval das Pedreiras
Santo Antônio dos Oliveiras
Marenice chorando e dizendo meu filho, tu volta!
O gunga roncando, o viola chorando e o médio ditando a cadência
O crivador é afinado no fogo
O meião é tocado no soco
E o roncador é quem manda na punga
Chuva, trova, uva, vulva, luva de lutador
Figo, farinha, família, fogo no rabo e no amor
Dostoiévski, Tchaikovsky, queijo e charque, Maiakovski
Paul McCartney, Hobsbawn, Led Zeppelin, Harry Potter
Paroles com Delon, Victor Hugo, Piaf, cabernet sauvignon
Mas de tantos vícios,
Morena danada sem eira na beira da cama,
Teu cheiro é o que me faz contar os dias
Como qualquer viciado faria
Quando o tempo passa distante do vício que ama
Pinga, pingado, pisante girado na roda
Viver o carnaval das Pedreiras
Santo Antônio dos Oliveiras
Marenice chorando e dizendo meu filho, tu volta!
O gunga roncando, o viola chorando e o médio ditando a cadência
O crivador é afinado no fogo
O meião é tocado no soco
E o roncador é quem manda na punga
Chuva, trova, uva, vulva, luva de lutador
Figo, farinha, família, fogo no rabo e no amor
Dostoiévski, Tchaikovsky, queijo e charque, Maiakovski
Paul McCartney, Hobsbawn, Led Zeppelin, Harry Potter
Paroles com Delon, Victor Hugo, Piaf, cabernet sauvignon
Mas de tantos vícios,
Morena danada sem eira na beira da cama,
Teu cheiro é o que me faz contar os dias
Como qualquer viciado faria
Quando o tempo passa distante do vício que ama
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Anormal
Hoje
o dia tá estranho, alguma coisa aconteceu
Meu
mestre faltou à roda
Meu
mestre nunca falta à roda!
Toquei
uma iuna belamente
Mas
todos me olhavam de forma estranha
Peguei
o carro, o pneu dianteiro esquerdo estava vazio
Enchi-o
Como
assim alguém lê minha poesias e pensa em mim diariamente?
Totalmente
estranho
O
pneu dianteiro esquerdo estava novamente vazio
Tinha
um encontro marcado
Mas
ela estava com sono
ELA?
Quem
sente sono sou eu!
Ia
dirigindo pelo boulevard, a direção tendendo à esquerda
No
cachorro quente os adolescentes estavam sem camisa e de braços cruzados
Todos
olhando para a quadra
Atravessando
a pista às quedas outros adolescentes com garrafas e cigarros nas mãos
Cheguei
ao prédio e quase não consigo entrar
Quanta
gente parada na porta sussurrando!
Da
varanda agora vejo as luzes vermelhas e intermitentes da polícia na
quadra
Será
que mais um pulou na linha do metrô?
Será
que outro amante convidou a amada a conhecer seu apartamento do vigésimo andar
por fora da janela?
Luzes
de polícia fazem até dias normais serem estranhos
Imagina
hoje então...
Vejo
comentários feitos por um amigo de farra no PC totalmente anormais
Como
posso estar possuído pelo desejo de lhe dar um tapa na cara?
Caro
João, nesse dia especialmente estranho quero quebrar tua cara, filho da puta!
Nem
o pinho parece me aceitar direito
Dias
estranhos:
Será
que são reais,
Ou
apenas visíveis a olhos estranhamente parciais?
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Meus Sinais
No
amor, vê se interpreta,
Te
chamo “preta” só de começo
“Minha
linda”, se tu me atiça
Se “minha
querida”, não te mereço
Mas
te prepara para a verdade
O
meu “morena” é malandro
É com malícia, é com maldade
Maquiavélico, sem maquiagem
É
paixão, é ardência
É indecência, é fuleragem
É indecência, é fuleragem
Se
te mando um “beijo”,
As
coisas não vão bem
Um
“beijão” é do dia a dia
Um
“abraço” o é também
Mas
um “cheiro” é orgia
É
maldoso, não é são
Tem,
no mínimo,
Quarta intenção
É
indiscreto, é sem vergonha
É sacana, é pilantra
É sacana, é pilantra
É
filosofia tantra
É
uma carta pra cegonha
Então
te atenta se te interessa
Que eu nos sinais não disfarço.
Às vezes, finjo
que faço, mas não faço,
Entendo fingindo embaraço,
Finjo
que vejo, mas não vejo,
Mostro agrado tendo nojo.
Mas
na linguagem eu me entrego
Com o
olho eu minto, com a língua eu pago.
Então,
se um dia tu me ouvir dizer, nada ameno
“Um
cheiro bem no meio desse cangote moreno,
Morena”,
perceba logo o perigo
Ou
um dos dois vai sair ferido,
Ou
no amor faremos doutorado
Nada Acadêmico
Eu
não uso pena pra escrever
Uso
uma caneta bic, ou o Word
Ou,
se Jah quiser, o iPad que minha tia vai trazer do estrangeiro
Eu
não suspiro à toa
Não
gosto de acertar a métrica dos versos com “Ah!”, “Oh!”, “Ai...”
A
não ser que seja um
“Ah!
Vai te lascar, não aguento mais reclamação”
“Oh!
Será que aquilo é uma cobra? Oh! Oh! Oh, porra, bem ali!”
“Ai...
meu dedo ainda tá doendo da topada que eu levei na envergadura da parede”
Não
conheço donzelas, princesas, damas
Desculpa,
não conheço
Mas
se me pergunta da guria, da morena, da mulher, da minha linda, da galega
Escrevo
muito pra elas!
Se
um olho brilha, não precisa ser como a estrela
O
sorriso não precisa ser claro como o céu
Nem
o coração grande como o mar
Oxi,
o olho brilha, o sorriso é claro e o coração grande tal qual eles mesmos
Por
último, não tomo absinto nem sinto meu peito tísico
Quando
doente, tenho gripe, sinusite, dor de cabeça, uma simples ressaca ou uma
hemorragia hepática
Gosto
muito de cachaça, Skol, Bhrama, Antártica (a original então...), catuaba, tequila,
montila, vinho, ainda ontem arrochei um combo de Orloff com red Bull que
quebrou minha fatura,
Por
isso hoje escrevo sob o efeito de uma singela Bavária e de uma
tosse do cão
Esses versos insatisfeitos com a poesia ornamentada e falsa da minha geração
Esses versos insatisfeitos com a poesia ornamentada e falsa da minha geração
domingo, 8 de julho de 2012
Egocêntrico por Ignorância
“Pinto a mim mesma
porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor.”
Frida Kahlo
Queria
fazer uma poesia que tocasse todos os corações
Feito
fossem um
Cada
um se sentindo um nico
Queria
escrever uma história única e que fizesse total sentido
Feito
fosse verdade
Todos
a tocassem como quem vê rdade
Queria
eliminar de todas as minhas linhas a metalinguagem
Que
se faça a poesia
Não
se explique a feitoria!
Queria
escrever um livro em nada parecido comigo
Não
desisto da minha ode sobre a preguiça
Não
abandono minha canção sobre as revoluções
Não
desisto, não abandono e nem as faço
Pois
só sei falar de mim de mim de mim de mim de mim de mim
E
a história da capoeira, do forró, do cavaco, da Casa das Minas, do queberentã
de zomadonu
Queria
contar tantas histórias
Mas
o medo do erro recorre e me pede que se faça jus aos especialistas
Estes
nunca tem o coração tocado por canções que tocam todos
Então
falo de mim de mim de mim de mim
Eu,
me, meu, ma, mo, mim, comigo
Eis
o mote de meus escritos
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Nonato
Piauí,
menino besta.
Nasceu
no Piauí
Mas
não nasceu Piauí
Nasceu
Raimundo Nonato
E,
de fato, cresceu em Upaon-Açu
Mas
foi morar em Goiânia
Devido
ao emprego do pai
No
Itaú
Raimundim,
abestado
Foi
virar Piauí numa cadeia do Rio de Janeiro
E
pro Três Rios, pro Angra, pro da-Rocinha
Era
chamado estrangeiro
“Tu, de outro país, vem pro Vermelho!”
Dizia
o do Comando
“Vem
pro Terceiro”
Diziam
noutro bando
Mas
foi bater no subsolo,
Que, de um falo,
Não
seria nem a base das bolas
Piauí,
por besteira.
“Piauí!”,
“Foi visto!”, na refeição matinal
“Piauí”,
era o que dizia
Sua
cueca no varal
“Mas
esse tal de Piauí
Fica
em que região de São Paulo?”
Perguntou,
um dia,
O
de São Gonçalo
Raimundo
Nonato, que bosta
foi
lembrar seu nome
No
dia em que o Juiz negou o alvará
Passou
a dor na costa
Passou
a fome
São
não passou aquele cheiro de merda no ar
Piauí...
agora basta!
Se
entregou àquela condição
Agora
é líder de cela
E
espera a liberdade provisória
Pra
sair no natal
E
mandar ao juiz uma carta precatória
Alterando
sua residência
Da
Barra da Tijuca para o inferno,
Sem mais história
Sem mais história
Indigente,
vai ser festa!
Vai
subir Minas, Goiás, Tocantins,
Passar
no Maranhão, Pará, Parintins,
Voltar
pro Pará, Amapá e, por fim,
A
Guiana Francesa!
Onde
aplicará seu francês
E
a indigência terá mais beleza
Até
em casual encontro com a Federal...
Dizem
que lá tem Todinho na sobremesa!
Indigent, c'est pas qu’un rêve,
Enchanté! C’est un plaisir d'être ici!
Mais j’attends la vie se finir
Pour que je retourne au Piauí
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Café Preto
Café
preto do diabo!
O almoço mal empurra peritônio, e o café já
vem à lembrança. E com esse sol e esse vento então, faz a gente ir longe...
_Ei morena!
_Diga, meu lindo.
_Cadê os meninos?
_Casa de tua mãe.
_Pois encoste!
Ela vai encostando e já vê da sala ele na
rede. E de tanta questão que faz de estar à vontade, tem um pé dentro e outro
fora, caído à toa no chão.
_Meu preto, depois dum almoço desse, caldo,
farinha, limão, pimenta e cachaça, o jeito é arrochar um cigarrinho de palha e um café preto forte de fazer careta. Tu queres?
_Nego não.
Acende, bebe.
Acende, bebe.
_Ontem teu menino veio me contar a história
de tio Luís que tu contou pra ele, que aqui era tudo uma grande fazenda e que foi
bairro de tua família e que foi bairro dos empregados e que pros empregados é
bairro da família e que tu quis voltar nem que a peste. Nós arrudiados de
famílias, neca de empregado.
_Ele é uma graça! Hoje é dia de boi?
_Que boi, é outubro, boi é São João.
_Pois todo dia devia ser dia de boi... Pegue
aqui meu violão e me cante aquela do Gonzaga!
Pega um violão, dá um cheiro bem cheirado,
comumente chamado de cafungada, no cangote dele e lhe entrega o violão. Ela
canta:
_”Meu cigarro de palha, meu cavalo ligeiro,
minha rede de malha, meu cachorro trigueiro...”
_Morena, me mate não! Que voz é essa que eu
fui achar! Vamo ali pra eu te contar um negócio...
_É o jeito...
A gente vai longe...
Eita café preto do diabo!
terça-feira, 26 de junho de 2012
a antigas cartas
É
só costume, não é amor
Eu
me entreguei a esse rapaz
Porque
não queria nada mais
Que
uma alma ao meu lado
E
tudo ia bem
Pão
era pão; faca, faca; queijo, queijo
E
aí vem você
E
me rouba um beijo
Daí
pão é queijo, queijo é faca
E
faca é o que parece atravessar meu peito
Cada
vez que te vejo!
Você é tão certo
Seu
olhar me subjuga
E
é sério
Mas seu jeito engraçado de falar
Me
faz rir até chorar
Agora eu
quero sua displicência
Na
minha vida
Quero suas cordas
No
meu ouvido
Seu cheiro
No
meu suor
Mas
é tão difícil abandonar esse rapaz
Que
tanto chora, reclama, faz cena
E
olha que não sinto nada,
Senão
pena.
Te
peço só um favor,
Te
faço um apelo:
Chega
com todo teu amor
E
me rouba dele,
Me
subjuga no teu zelo!
sexta-feira, 22 de junho de 2012
Aspiração Esquecida na Gaveta
O
difícil não é cantar
O
que de duro há em mim
E
o que de claro há em si
Como
o vento venta ou a nuvem passa,
O
que me tolhe
Não
é criar asas,
Buscar
casa e não achar enfim.
Posso
plantar um beijo
E
colher carmim, catuaba, uva passa,
Não
é isso o que me arrasa.
É fácil chorar um mundo vão
E
na mão, um violão não me cai mal
Posso
cantar um mundo val
Embora
o canto seja ficção.
Encontro
letras na madeira
Mas
me seduz também o neutrino
E,
no abismo em que me inclino,
Posso,
ante o rebento, ser doutor ou parteira
Mas bem, o que eu quero é cantar
Não
feito passarinho
Que,
embora belamente rime com ninho,
Não
rima com a urtiga que me abrasa,
Quero
uma voz com ardor e estranheza:
No
estranho, está a beleza,
Na
frieza, não há coração,
Ou
antes o há sozinho
2008
quarta-feira, 20 de junho de 2012
O Porque do Abandono do Pensamento
Antes eu
escolhia uma questão
Ou ela
vinha com as próprias pernas,
E o juízo
começava a arrudiá-la.
Primeiro vinham
as conceituações
E o
porque de tratar de tal questão.
Se havia
uma conclusão intermediária,
A dúvida era
como popularizá-la.
Se a discussão
só cabia à academia,
Estava eliminada
da mente, não servia.
Mas o maior
problema era que, no final,
A real
conclusão, bem ou mal,
Se resumia
ao nada, um grande buraco
Semelhante
àquele buraco em que cabe o mundo
E onde
nós caímos por sermos fracos
E não
suportarmos a batida de um touro valente
Irritado devido
à pancada que recebeu
De um
cachimbo de ouro, que, por sua vez,
Cai muito
bem num dia como hoje, de domingo.
Vê que
cada palavra besta de um discurso
É a porta
de uma nova e infinita questão
Que acaba
chegando à conceituação e entendimento do tudo
Se resumindo
a nada.
E cada
nada de conclusão
Parece ser
uma pancada nos nervos.
Imagino que
o córtex cerebral se avermelhe, inflame
Com o
niilismo.
O meu, acho que necrosou,
Pois, à
época da inflamação cortical,
Refletir me
doía, quase me fazia chorar,
Mas hoje,
pois mais que me esforce,
O pensamento
questionador não me adentra a mente.
O nada
pode angustiar,
Pode fazer-nos
xingar para liberar
Esse caralho
de ira.
Pode-nos
querer tornar a vida em nada,
Mas isso
leva a outra discussão circular e infinita,
Que acaba
chegando a porra nenhuma também.
Hahahaha
Pode nos
fazer rir!
A mim,
faz querer viver à parte da discussão,
Da filosofia.
Esse é
meu nada,
A simples
aceitação, que existe a grande custo.
A todo
momento vem o ímpeto do questionamento.
Por exemplo,
me pergunto por que
Não escrevi
esta merda em prosa,
Se é toda
pontuadinha,
Tem métrica
à toa e não mensurada
E nem uma
simples riminha.
Mas, em
vez de chorar, querer morrer ou refazer tudo,
Posso só
dizer:
O rato
roeu o resto de alma que havia em mim
Enfim pedi
penico para o pensamento instável
E parei
para admirar uma simples batata
Que ao
nascer se esparramava pelo chão
Meu coração
dizendo que trabalhar só é horrível
E a mente
dizendo “continue irmão
Que aqui
há mais uma poesia aceitável”
Função Vulgar
Só pra cumprir minha função vulgar
Tenho que falar
Que eu não sou só teu
Eu sou do mar, sou do samba, eu sou do céu
No mar,
eu deixei um amor
E já
cansei de chorar
Porque não
regresso
Eu não
sou como a onda
Que vai e
volta
Pois se
eu volto pra lá
Eu nunca
mais me despeço
refrão
No samba,
se encontram os meus vícios
Não é
difícil se apaixonar
Ele faz
crer um coração ateu
Em casa,
tenho o que tu me dá
No samba,
eu tenho o que Deus me deu
refrão
O céu
preto todinho furado
É o
avesso do mar
Inspira a cadência do samba
Faz lembrar da gente bamba
Faz sonhar com a morena da ilha
Tão pesado,
suspenso no ar
Me dá o
rumo, mas não me mostra a trilha
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