sábado, 29 de setembro de 2012

Tua Mania

Fica tu com tua mania
De gostar
De quem não gosta de ti

Tu que, da paixão em semente,
Cultiva, por trigo, o amor aparente
E colhe, seletiva, o desprezo por pão

Tu que cata aflita dos sorrisos
De quem pra ti é tudo
E dos que não são ninguém
Resquícios de desdém

Tu que lança por isca
Teu olhar
E deseja qualquer caça que por acaso
Te ignorar

Fica tu com tua mania
De gostar
De quem não gosta de ti

E fica enfim
Infeliz ou só
Sendo assim




domingo, 23 de setembro de 2012

Cu

Cu,
Olho único da face caolha da bunda,
Não importa em que direção aponta
Nunca é chamado zarolho por afronta,
Por ser só na sua jornada quente e úmida

Cu,
Massa orgânica retraída e tímida,
Sedenta por fricção,
Que tem seu prazer estirpado
Por preconceito e discriminação:
Cada um quer o cu do próximo, de fato,
Com a contradição de manter o seu próprio
Em eterno celibato

Cu,
Anel carnal que celebra o auge da intimidade.
À aliança de ouro, se reservam o anelar, o bolo, os fogos;
Ao anel do cu, só cuspe e o dedo médio, o Maior-de-todos.
És, em verdade, cu,
Romântica ampola que por amor se esfola
Só pedindo o descanso póstumo em troca,
Romântico tolo

Cu,
Órgão que Deus primeiro deu
Aos deuterostomados,
Que reservam à tua filha, a boca,
Escova, pasta, listerine, bala de menta,
E a ti, quando muito,
Papel limpador de merda.
Mas, pensemos: sendo deuterostomos,
Obra do barro de Deus
É o que poderíamos ser;
Proliferação celular do cu
É o que de fato somos

Cu,
Vaso representante da alta tecnologia da natureza,
Que, com sua beleza cilíndrica e seu trio de pregas,
Separa o gás, o líquido e o sólido,
O flátulo em vento e os dejetos em postas
Deixando, ao peido, insignificantes átomos de bosta


Cu,
Dedico a ti esta singela poesia
Que se tornará uma ode afinal
Quando, com base no toque retal,
Eu me dedicar um dia
Ao estudo aprofundado da proctologia

Com todo o meu apego,
Um sincero beijo grego






sábado, 22 de setembro de 2012

No Corredor da Faculdade

As nutriçãs com suas maçãs
E seus grãos desconhecidos
Primos da linhaça e do de bico

Os dentiários sempre hilários
Dispostos a mostrarem os sorrisos
Recém tratados a cerdas e fios macios e lisos

Os farmaciríneos nada sabem de peritôneos e períneos
Passeando a se perguntar
Quando foi que selecionaram química no vestibular

As enfermerícias com revoltas um tanto postiças
Preparadas para afrontar cheias de razão
Qualquer sistema que não lhes caiba à mão

Os medicinígens, quase todos virgens,
Pisando, como fossem donos, o chão
Sem saber que o que sabem provém de ilusão

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Encontro Casual

_Meu quirido! Há quanto tempo!
_Não vou fingir que lembro.
_Não finja, que eu não finjo que acredito.
_Fica o não dito por dito.
_Fato!
  E a vida?
_Uma merda.
_Acontece, merda
  É o que o homem mais produz na vida,
  Às vezes inconveniente,
  Às vezes aguardada
  Mas sempre certa.
  Às vezes mole,
  Às vezes dura,
  Normalmente torta
_A minha anda dura, fedida e morta.
  A vida, quero dizer.
_Sempre há o que se fazer.
  Cadê os amores?
  Não tem em mente uma menina?
_Uma em cada esquina!
  Mas não me querem ter.
_Não pode ser!
  Já notei os olhares das que passam,
  Quase te abraçam!
  É bonito, gente fina, músico!
_Pois é, tentei culpar o físico,
  A grana, a forma do pinto, o humor amargo
  Os vícios fartos, o ciúme, o narigão.
_E a conclusão?
_Sou um saco...
_Um saco... tipo... escrotal?
_Sim, dos que passeiam debaixo do pau.
_Não pode, te vejo desenvolto, sempre risonho.
_No íntimo ando tristonho, mal humorado, sem paciência.
_Não é paciente por essência?
_Não, já não quero construir algo de que sei o caminho:
  Primeiro os olhares, depois o charme,
  Cada um finge que vive bem sozinho,
  O ciúme a conta gotas, o desprezo medidinho,
  A trepa, a semana sem ligar,
  Enfim o jantar romântico em que se fazem os acordos.
_E tu, que tem feito?
_Já chego rasgando o peito!
  Ora, se sei que me deseja, se sabe que é desejada,
  Por que não se entregar de mão beijada?
_Meu caro, nada se constrói do fim.
_Não ligo, continuo sendo assim.
_E aquela que tu me apresentou certa vez?
_Anda se dando com um francês...
_Que pena, estás de luto?
_Que nada, é feio pra caralho!
  Deve ser roludo....
_E o que isso tem a ver? Por que tens que ser o melhor em tudo, enfim?
_É que eu só amava o amor dela por mim.
_O que tu pretende fazer? Tem algo em mente?
_Aguardo um milagre vir pela internet!
_Tem conferido?
_Diariamente!
_Sorte tua ter os amigos.
_Aprendi na minha trilha
  Que não existe outro amigo que não a família.
_Sabe a nossa diferença?
_O forte da minha presença é a sinceridade!
_Eu diria a educação,
  Que eu estou tão interessado na tua vida
  Quanto tu de me esconder a verdade.
_Penso que não, somos parte do mesmo cidadão.
_Somos filhos então da mesma falsidade.
_Acho que sim, um grande abraço! Saudade!
_Citar o abraço é pra ligação, me dê um de verdade!
_Até a próxima!
_Antes tarde que mais tarde.
_Até mais tarde, então.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Choveu

Choveu!
O peito colabado já não suportava
A seca a fumaça o tempo opaco
A indiferença
Choveu!
Tinha aquele olhar extasiado
Desde que o amor se acabou
O olhar que não ri nem chora
E não quer ir embora
Olhar de tempo cinza
Choveu!
Vinha correndo na madrugada
No carro empoeirado
No peito, o suor da angústia
E uma gota anunciou
Choveu!
Chorou!
Era água e água e água
O carro se afundando
No peito uma inundação
Gritava feito menina de colo
Choveu!
Chorou!
A noite amarela da cidade, nos olhos, embaçada
O cheiro de terra molhada
Tal qual a terra da casa em que nunca morou
Que existia nas memórias da infância
Memória, essa filha primeira da imaginação
Choveu!
Chorou!
A boca arregaçada
O parabrisa melado de lama
O nariz melado
A garganta apertada, as veias saltando
Choveu!
Chorou!
Sorriu!
Pois a água era a prova de que
Naquele corpo fraco, suado,
Capaz de chorar e de chover,
Tremendo de frio,
Ainda era o amor quem reinava

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Amor Livre

Amor livre é querer amar em paz?
Querer amar um, junto com outro mais?
Será dar-se à toa numa folia?
Amar de uma vez a moça e o rapaz?

Penso que é paz ser amado em troca
Que tem sua graça se dar à orgia
Que o mais belo "dar-se" é o da boemia
Que amor de gente sempre é amor val

Mas não me leve a mal, meu caro amigo,
É só do teu tempo o amor proibido
Teu tanto amar é amar quase tudo

Pois, quando estiveres velho, barrigudo,
Tu hás de querer a paz dos contratos
Como os contratos te hão de querer mudo

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Seja Malvindo

Seja muito malvindo
E volte o quanto antes ao teu país
Veja que somos capoeiristas
E podes, em um golpe de vista,
Atingir nosso pé com teu nariz

Seja malvindo e volte sempre
À tua terra, não à minha
Que nunca compreenderás com o dicionário
O que faz nosso imaginário
Chamar "ma mère" de mãínha

Malvindo sejas à minha nação
Que se estende da Bahia ao Maranhão
E que não te convida a ser espectador
Das nossas belezas e misérias.
Nada saberás dos batuques de tambor em tuas férias,
Para ti, cantor será sinônimo de cantador
Não te serviremos de fotografia
Não gozarás da nossa folia
Não te treparemos num andor

Seja malvindo e não volte
Pois, quando sentires saudades,
Nós é que visitaremos tuas cidades
E levaremos bananas para os teus macacos.
Riremos do jogo de péla,
Que também não compreenderemos,
Enrabaremos tuas donzelas,
Se é que não já as comemos
E defecaremos na tua água.
Hoje és alazão, amanhã égua
Não te agonia, não guardamos mágoa

Seja malvindo e perdoa
Se cismei mais que pude,
Somos assim sem vergonha
Tocamos cavaco, não alaúde
Não somos nem nunca seremos nobres:
Um tanto esquerdistas no mapa Mundi,
Temos uns trinta nomes para vagina
Uns vinte para menina
Uns quinze para bolinha de gude.
Desculpa o português roto
Meio jeje, meio bantu, meio tutsi
Mas fica o recado dessa nação pobre
E um tanto podre:
Va te faire foutre!

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Reflexão

Hoje fui à praça dos poderes,
Me sentei perto daquela cabeça enorme do Jucelino
E fique feito menino
Jogando pipocas cor de rosa ao pombos
O tempo passando
Os carros passando
Turistas passando
O vento passando
A vida passando
Eu pensando
Pensando
Pensando
Será que os pombos,
Que só andam pulando,
Não rompem o menisco do joelho?
E no mundo miséria, guerra, tragédia,
Dilma, Lula, Collor, Maluf, Sarney,
Quanta gente boa no mundo
Honestino, Guevara, Herzog, Mahatma
Chico, Gil, Bethânia, Caê, Gal,
Quanta gente ruim também
E eu olhando
Olhando
Olhando
As coxas dos pombos
Será que a sobrecoxa realmente fica
Sobre a coxa?
E o sobrecu?
A Iugoslávia, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
O império Austro-húngaro, a Indochina
Burkina Faso, Etiópia, Zion, Lyon,
Angola, Benguela, Banguela, São Bento Grande, Pequeno, Iúna,
As asas da graúna
Será a coxa da asa parte da asa ou da coxa?
Talvez se fosse da coxa seria asa da coxa
Casamento gay, maconha, aborto, ONGs,
Greenpeace, yellow, blue,
Because the sky is blue, it makes me cry,
O céu azul sobre o mar
E eu pensando
Pensando
Pensando
Tentando não pensar
Se tu um dia vai voltar

sábado, 1 de setembro de 2012

Da Tristeza

A tristeza tem seus sons e tons
Não se há de negar em gênero, grau ou qualidade

Que é um tanto azulada a tristeza
Da saudade;
E o vermelho ardente?
O vermelho sangue, daqueles que escorrem das imagens sacras?
O vermelho da punjança que acompanha a tristeza
Da vingança;
E é cinza por prévia sentença a tristeza
Da indiferença

É do dia quente,  seco e opaco 
O ar parado que não geme nem perturba a audição
Na tristeza indiferente;
É uma brisa que remete ao mar
E que goza nos ouvidos
Os ventos destemidos da tristeza saudosa;
E é um tufão, uma labareda gritando nas orelhas
O gemido insuperável, inabafável da ativa
Tristeza vingativa

Mas antes a vingança em atividade
Que o cinza angustiante da apatia;
Antes o roxo venoso e um tanto venenoso
Que atormenta a flor da idade da saudade
Que a vingaça em si limitada em afasia;
Antes tons coloridos de tristeza
Que semitons por esmola de alegria.