segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Da Alma do Vô Tõim

_Vòzinha, não é pela pessoa
É a situação!
Bem eu entendo sua saudade
E sua vontade de ver o velho
Na cabeceira de costume,
Na cerveja que se tome,
No cigarro que se fume!
Percebo que não há outra cara
Na ladeira de piçarra,
Que tem uma lágrima por grão.
O velho Antônio sei foi,
(Me perdoe, foi ou não?!)
E eu sei que cada estaca 
Tem sua marca de facão
E o seu facão,
A marca de cada dedo da sua mão,
Como seu peito tem, vòzinha,
Os sulcos dos dedos de vô Tõim,
E seu aço rasgueia
Cada pedaço do seu coração.

Não me leve a mal, vòzinha,
Até me leve a bem:
Se a vida se for como se deixou dito,
Já lhe digo que muitíssimo lhe amo também,
Mas fique, após a morte,
Onde lhe convém!
Sei bem que nos abaterá a saudade
Mas não penso ser bondade 
Que a senhora me resolva aparecer,
Penso que corpo gosta de corpo,
Não de almas à mercê...
Inclusive, caso se vá quando nunca esperado,
Lembre de dar o recado a meu vô,
A quem nunca ficou esclarecido
Não ser bom se dar 
Por reaparecido.

Não fique assim, minha vó Maria,
Não se zangue, que o vô no céu
Com certeza reflete a contradição:
Ter uma mulher cristã casta
E um neto ateu cagão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário