quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O Pé de Coentro e O Homem irmão do Homem

Eu plantei um pé de coentro
Na varanda do apartamento
Para ver se dava pé.
Meu pezinho de coentro,
No meio do apartamento,
Meu futuro dicumer.

Da varanda do ap,
Vi, além do condomínio
(Cuja bandeira monetária
Se estendia no portão)
Uma carroça de regalo,
Não puxada por cavalo,
Mas por um irmão feito cavalo
Por seu próprio irmão.

Gente!

Meu pé verde de coentro
Ainda era isento de cor:
Era botão.
Eu na varanda,
Com a mão suja de chão,
Olhava adiante
Aquele chão sujo de mão.

Chovia.

Meu pé tinha o mundo pra nascer,
Eu, que não via,
Tinha tudo para ver enfim.
A vida rasgando o chão,
Dureza sem fim.

Chovia.

Era dor que não se via
Na vida que pendia
Sob a pele do irmão.
Sustentáculo infame
Daquele eterno ia-não-ia
Revoltar-se com o patrão.

Gente!

O sol rebulia
Dançava em redor
Do meu pé de coentro
Dia após dia. 
A carroça seria a sebe de Apolo
Pois que cedo vinha
Rebentar o pano do céu,
Seu nincho,
E saía à tardinha
Para o seu arrebol.
Mas não tinha sol,
Tinha lixo.

Eis que enfim germina
O coentro feito em vida
Tão disposto a crescer!
Eis que o régo com meu ser.
Eis que cresce, e a semente do coentro
Me grita de sob a terra:
"Regaste o pé errado,
Esse é um pezinho de mato
A quem eu dei a minha vez"
Digo eu:
"Rasga-te meu amor,
Pé de coentro,
Me negando a vida e a flor
A cor e a vida que te dei.
Te recusa a nascer
Nesse mundo de estrume?
Vê!
Quanta matéria orgânica
Pra perfurar com teu cume!"
"Me recuso a nascer
Neste mundo de estrume."

Chovia!

E jamais se saberá
Se a água vinha ou ia
Das entranhas do meu olho.
Eu, fora do condomínio,
Sem a licença do tostão,
Já não me alegro:
Se me molho, me recolho.
Esse cheiro de terra melada
Pelo choro do trovão,
Esse cheiro de lamento,
Eu sendo cavalo do homem que,
No apartamento,
Rebuliça a terra
À procura de sustento.
Ele, 
Meu próprio irmão!

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