segunda-feira, 9 de maio de 2011

Canto de Cursinho

Preso nesse mundo,

perdido em apostilas,

apótemas, propanoatos de metila,

desprezo o atrito social.

Quanto ao aspecto conjuntural

que move tal mundo que me ilha

o entendo ao trago de montila

de etanol que meu senso inibe,

junto à coca-cola diz-se Cuba Libre


Quando não, sem mesmo pensar,

cedo energia a um tal sistema,

e geme a ema num tronco

onde antes gemia um sabiá

(inda me reclama o mestre

do erro de tal nicho ecológico

Penso eu o poeta não é mágico,

mas se faz princesa deitar em pau-pereira,

por que restringir a cantiga à laranjeira?)


Lembra-me Alexandre, o Grande,

que, estudando na São Luís grega,

por Aristóteles dada a vida cega,

e por seu pai, a força de infantes,

disse um dia ante a cidade jônia:

Matem soldados, mal-amados, amantes

Façam mulheres morderem fronhas

Mas não toquem numa simples pedra

ou, de Fedro, numa oração canônica

Matem pessoas,

não idéias por esses anos,

deixemos isso para os imperadores

latino-americanos


Pois se um dia

eu imperar por algum canto,

decretarei que de debaixo de cada manto

só exista prazer, carne e nada mais.

Aliás, farei pó de tudo que é idéia

Ideologias não terão platéia,

e poesias serão escarro

Quem resistir querendo pensar

mandarei pra Alagoas,

lhe mostrarei músicas boas

e um maço de cigarros.

Quando cativo da terra amada,

terá então a saudade dada em suas mãos.

E vai ser o rebelde

pensativo como queria.

Não dou muitos anos para que,

ante a agonia, busque a ignorância

como nunca buscou o saber


Assim, com o conhecimento

acabado em meu mundo,

sem discussões que vão a fundo,

só se saberá de triângulos, Joules, carbonos

Com a história factual,

separaremos na escola o bem do mal.

Todos serão felizes na sábia ignorância

Mas sei que haverá um infeliz

que quererá a sapiência

e, na ausência de diretriz,

vai fazer tudo do zero.

Verá que a palavra não é um mero

molde de certo pensamento.

Descobrirá a dor do sentimento

e vai querer sobrepor o seu

ao de quem mais perceber isso.


E aí votará a haver sal

no nunca antes tão adocicado

mar oceano de Portugal

2008

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