Preso nesse mundo,
perdido em apostilas,
apótemas, propanoatos de metila,
desprezo o atrito social.
Quanto ao aspecto conjuntural
que move tal mundo que me ilha
o entendo ao trago de montila
de etanol que meu senso inibe,
junto à coca-cola diz-se Cuba Libre
Quando não, sem mesmo pensar,
cedo energia a um tal sistema,
e geme a ema num tronco
onde antes gemia um sabiá
(inda me reclama o mestre
do erro de tal nicho ecológico
Penso eu o poeta não é mágico,
mas se faz princesa deitar em pau-pereira,
por que restringir a cantiga à laranjeira?)
Lembra-me Alexandre, o Grande,
que, estudando na São Luís grega,
por Aristóteles dada a vida cega,
e por seu pai, a força de infantes,
disse um dia ante a cidade jônia:
Matem soldados, mal-amados, amantes
Façam mulheres morderem fronhas
Mas não toquem numa simples pedra
ou, de Fedro, numa oração canônica
Matem pessoas,
não idéias por esses anos,
deixemos isso para os imperadores
latino-americanos
Pois se um dia
eu imperar por algum canto,
decretarei que de debaixo de cada manto
só exista prazer, carne e nada mais.
Aliás, farei pó de tudo que é idéia
Ideologias não terão platéia,
e poesias serão escarro
Quem resistir querendo pensar
mandarei pra Alagoas,
lhe mostrarei músicas boas
e um maço de cigarros.
Quando cativo da terra amada,
terá então a saudade dada em suas mãos.
E vai ser o rebelde
pensativo como queria.
Não dou muitos anos para que,
ante a agonia, busque a ignorância
como nunca buscou o saber
Assim, com o conhecimento
acabado em meu mundo,
sem discussões que vão a fundo,
só se saberá de triângulos, Joules, carbonos
Com a história factual,
separaremos na escola o bem do mal.
Todos serão felizes na sábia ignorância
Mas sei que haverá um infeliz
que quererá a sapiência
e, na ausência de diretriz,
vai fazer tudo do zero.
Verá que a palavra não é um mero
molde de certo pensamento.
Descobrirá a dor do sentimento
e vai querer sobrepor o seu
ao de quem mais perceber isso.
E aí votará a haver sal
no nunca antes tão adocicado
mar oceano de Portugal
2008
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