Aqui, da janela do apartamento,
Vejo todo dia, fim de tarde,
O sol descambando pra outra parte,
Pra onde voa meu pensamento.
E é pra lá que eu vou
É pra lá que eu vou
Quando o corpo venerar a alma,
A agonia se desfizer em calma
E o medo entrar em coma.
Vou me banhar numa cachoeira,
Comer de tudo sem receio,
Amar a feiúra do belo, ver a beleza do feio,
Chorar à toa, feito carpideira,
Vou tomar cana na mamadeira,
O leite eu tomo nas tetas da vaca,
Amar a vaca, o porco, o torto, o reto, o feto
o fato, o rato, o rio, do pinto o pio, o quinto,
o quarto, a sala, a sola, o solo da viola, a bola, a bala,
a fala, o fole, o bole-bole à tarde, a bolinha de carne,
A carne,
Eu quero sobretudo amar a carne,
Nem que lhe falte o cerne,
Que define onde o preconceito lhe cabe
Eu quero a carne, sem corante, sem tempero pronto
A carne crua, que já nasce ao ponto
A carne que afronta a entropia que manda
no antro e no derradeiro ponto do mundo.
09/05/2011
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