segunda-feira, 9 de maio de 2011

Canto de Varanda

Aqui, da janela do apartamento,

Vejo todo dia, fim de tarde,

O sol descambando pra outra parte,

Pra onde voa meu pensamento.

E é pra lá que eu vou

É pra lá que eu vou

Quando o corpo venerar a alma,

A agonia se desfizer em calma

E o medo entrar em coma.

Vou me banhar numa cachoeira,

Comer de tudo sem receio,

Amar a feiúra do belo, ver a beleza do feio,

Chorar à toa, feito carpideira,

Vou tomar cana na mamadeira,

O leite eu tomo nas tetas da vaca,

Amar a vaca, o porco, o torto, o reto, o feto

o fato, o rato, o rio, do pinto o pio, o quinto,

o quarto, a sala, a sola, o solo da viola, a bola, a bala,

a fala, o fole, o bole-bole à tarde, a bolinha de carne,

A carne,

Eu quero sobretudo amar a carne,

Nem que lhe falte o cerne,

Que define onde o preconceito lhe cabe

Eu quero a carne, sem corante, sem tempero pronto

A carne crua, que já nasce ao ponto

A carne que afronta a entropia que manda

no antro e no derradeiro ponto do mundo.


09/05/2011

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