Eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal
Olha que eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal
Mas o gosto não era cobre, alpaca ou zinco
Nem prata, níquel, aço, nem latão
Olha que o gosto num era gosto de ouro
Que eu não tenho um tostão
Mas vê que eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal
O sabor nera cobalto
Que o preço é alto
Nem era tungstênio
Que eu não tenho no âmago do bolso
Um real pra ligar a luz pra estourar a lâmpada
Que me melaria o dedo com tal gosto
Perceba que eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal
Eu vi que eu não lambia chumbo
Que eu não tiro raio-x e sou de paz
Nem também era chumbinho
Que não é metal, e eu já achei meu rumo
E não me sinto mais sozinho
Não era cálcio pro osso
Nem lítio pra fossa e pro alvoroço
Nem magnésio pro leite de magnésia
Não era sódio, nem potássio nem estrôncio
Ai, nem deus, não era frâncio nem césio
Eu sei que eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal
Ora, eu fui passar fio dental
Quando lambi o dedo
Tinha gosto de metal
O metal era chorado
Tinha um gosto encavacado
Do bordado de um bordão
O sabor era envergado
Do arame da berimba do berimbau
Panderício, guitarreiro, enviolado,
O sabor ia molhado de suor e de tensão
Tantanúrico, repiquenécio, enzabumbado,
Estranho e cotidianamente normal
Era o gosto que eu senti
Quando eu passei fio dental
Nenhum comentário:
Postar um comentário