segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ciência

Tu morde minha carne
Sem saber o quanto de mim é água
Talvez assim minha carne tenha sólida textura

Tu te prega no meu suor
Sem saber o quanto do meu suor é muco e uréia
Talvez assim tu me tenha por melhor cheiro

Tu lambe minha pele
Sem saber o quanto da minha pele é carne morta
Assim talvez o que há de morto em mim tenha mais sabor

A minha língua tu degusta
E bem sabe que em troca a tua é degustada
Sem ciência, tua língua só tem a ganhar em sabor e textura e odor

Tu recebe minhas metades
E nem se dá conta que tuas metades esperam pelas minhas
E que nossos gritos em nada assustam o que de haplóide há em nós

Em fim, tu descansa trêmula em meu peito
E não liga que te sustenta em parte osso, água, ar
E em parte citoesqueleto

Eu sorrindo, me achando dono de tudo
Nem percebo que, repousada, tua alma espontânea
Acaba de subjugar o meu limitado senso de mundo 

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