sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Corda Mi

O primeiro violão da minha memória passou na minha mão aos quatro anos. Pra infelicidade do tocador. Em meio àquele salão do clube da cidade, eu me escondi de baixo da mesa de sinuca e vi ao lado aquele violão, tão grande que eu nem pensava em segurar ele. Quase maior que eu. E numa atitude que hoje chamo de filhadaputagem, torci as tarraxas esperando ouvir uma música, como quando eu torcia os botões do microssistem pra fazer tocar meu cd dos mamonas. Não saiu música, e acabou-se a memória aí.
O segundo violão que me marcou veio depois do show do meu tio. Era trinta de julho de mil novecentos e noventa e oito. Tinha oito anos. E até os onze, só acreditei que dele saía música porque meu tio tocou uma canção ao me dar o pinho.
Aos onze aprendi a tocar. Eu queria mesmo era fazer aula de desenho, mas porra... Tio Zeca me deu aquela viola, sacanagem... Fui lá, aprendi.
"Maranhão, deixa de ser nerd cara, na nossa idade a gente tem mesmo é que ouvir rock, ou pagode, que seja. Mas essas tuas músicas é só pra quando a gente já tiver perdido o ânimo". Dizia o guitarrista do colégio. Devia ter razão, até hoje meu gosto poderia ser avô do gosto da galera. Só sei que eu tinha um acordo com a mãe de que ela me daria uma sanfona se eu entrasse num esporte e fizesse um regime. Hahaha, que merda, entrei na capoeira por causa da música. Mas, voltando, troquei o acordo de sanfona pra guitarra. O regime veio aos quinze anos, por causa de uma mulher. A guitarra, aos catorze, porque mãe é mãe. Sei que dela saíram alguns meses de rock, alguns fins de semana de reggae e anos de roupa pendurada, como hoje está.
Quase enlouqueço com a percussão da capoeira. Quase piro com os tambores maranhenses. Quase choro, ou choro mesmo, com os forrós de fundo de quintal na casa da vó. 
Me veio um berimbau, uma gaita de onde ainda não sai música, um cajon, entre outros esquecidos. E o novo ar da minha vida, o cavaquinho.
Mas isso tudo é pra contar que eu tenho uma loucura absoluta na vida, que são os instrumentos musicais. Não posso ver um que saio contando as cordas, olhando a madeira, o couro, as reentrância, as pinturas, enfim, um monte de coisa. E na tua canção de um amor sozinho tem uma mulher segurando um violão. E nesse violão tá faltando uma corda, a corda mais grave, a corda Mi. É um violão de cinco cordas. Engraçado, é a corda que eu mais toco, adoro sons graves, como o roncador do tambor de crioula, o berimbau gunga, o baixo e a corda Mi do violão. Às vezes a gente tem escolhas e nem sabe como é carregada de coisas importantes para outras pessoas, por mais que não se queira nesse momento um violão sem a corda Mi. Adoro sons graves, são tão vadios. Obrigado por cada poesia tua. Mas eu guardo uma caixa de cordas Mis vadias no meu latíbulo, vadias como eu mesmo. Obrigado por cada poesia tua e por tua paixão.

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