quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Choveu

Choveu!
O peito colabado já não suportava
A seca a fumaça o tempo opaco
A indiferença
Choveu!
Tinha aquele olhar extasiado
Desde que o amor se acabou
O olhar que não ri nem chora
E não quer ir embora
Olhar de tempo cinza
Choveu!
Vinha correndo na madrugada
No carro empoeirado
No peito, o suor da angústia
E uma gota anunciou
Choveu!
Chorou!
Era água e água e água
O carro se afundando
No peito uma inundação
Gritava feito menina de colo
Choveu!
Chorou!
A noite amarela da cidade, nos olhos, embaçada
O cheiro de terra molhada
Tal qual a terra da casa em que nunca morou
Que existia nas memórias da infância
Memória, essa filha primeira da imaginação
Choveu!
Chorou!
A boca arregaçada
O parabrisa melado de lama
O nariz melado
A garganta apertada, as veias saltando
Choveu!
Chorou!
Sorriu!
Pois a água era a prova de que
Naquele corpo fraco, suado,
Capaz de chorar e de chover,
Tremendo de frio,
Ainda era o amor quem reinava

Nenhum comentário:

Postar um comentário