segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cantos de Gaveta

No fundo da gaveta se encontram os cantos
que eu fiz questão de esquecer.
Esqueci-os tanto, entretanto,
que não passo um dia sem os ver.
Vi, outro dia, que havia um canto de amor
num papel de jornal,
junto à manchete que dizia
"mais um que o amor matou".
Esqueci-me de um canto magistral
sobre o diafragma e o nervo frênico.
Esse, me recordo, estava escrito
num pedaço de papel higiênico.
Havia até um samba alegre,
num papel de pão rasgado.
Não sei se o rasguei pra não sujar a mão,
ou se esqueci como se ri sem ter razão,
mas esse samba nunca foi finalizado.
Na madeira da gaveta,
risquei um canto que me atiça.
Nele, Caetano discorre sobre o ciúme.
Dele, quero fazer um canto sobre a preguiça.

No fundo da gaveta,
atiro cantos em que transformo em arte
o que, no fundo de outra gaveta,
são coisas de verdade.
Sendo assim, onde se lê "saudade do amor"
na gaveta do quarto,
pode-se, com razão,
ver o parto da dor
na gaveta do coração.

abril/2011

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