sexta-feira, 22 de junho de 2012

Aspiração Esquecida na Gaveta


O difícil não é cantar
O que de duro há em mim
E o que de claro há em si
Como o vento venta ou a nuvem passa,
O que me tolhe
Não é criar asas,
Buscar casa e não achar enfim.
Posso plantar um beijo
E colher carmim, catuaba, uva passa,
Não é isso o que me arrasa.


É fácil chorar um mundo vão
E na mão, um violão não me cai mal
Posso cantar um mundo val
Embora o canto seja ficção.
Encontro letras na madeira
Mas me seduz também o neutrino
E, no abismo em que me inclino,
Posso, ante o rebento, ser doutor ou parteira

Mas bem, o que eu quero é cantar
Não feito passarinho
Que, embora belamente rime com ninho,
Não rima com a urtiga que me abrasa,
Quero uma voz com ardor e estranheza:
No estranho, está a beleza,
Na frieza, não há coração,
Ou antes o há sozinho

2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário