terça-feira, 5 de junho de 2012

Prosa Claramente Direcionada


Tu acredita que ela me disse que paixão é coisa de criança?
Eu não acreditei, mas pensando bem é assim a ofensa
Que tenta ganhar o discurso a todo custo com sentença
Que contradiz o que se pensa
Fazendo, do argumento,
Contradança do pensamento

Mas pensa bem, se é de caráter infantil se apaixonar
Qual será a qualidade etária de se desculpar
Antes mesmo de se fazer o que se quer fazer?
Antes não julgar do que se estar do julgo à mercê

Pobre voz minha, que nunca foi párea
para o teu avançado fármaco, menina
Mas prefiro te entupir de chocolate
Que impedir a recaptação no âmago da ação
Da serotonina

É uma pena essa voz não ser grande coisa
Mas esteve disposta a humildemente te cantar
E os meus versos, coitadinhos, tão contadinhos nos dedos
Agora têm medo de se pensar não terem sentimentos
Pensas que não há? Pois há!

E vê bem tu que eu sou da terra cuja alma
Se lava entre o Tocantins, o Gurupi e o Parnaíba
Que se fosse acaso duma mão a palma
Teria o Mearim como linha da vida
Terra de Alcione, João do Vale e Papete,
Do Baleiro e do Gonçalves que tanto cisma
Do Gullar e do Aranha, antagônicos, complementares
Sou da terra que à minha poesia incita
Mas que não a delimita

Mas, mudando de pau pra cacete,
Tu acha que ela tem noção do que é viver o cárcere?
Do medo que na alma se assoma
Da insegurança que assombra
O toque mais fugaz
E de repente ter de volta um chão que foi seu
Ser admirado, ter o ego elevado ao céu
Poder ver no espelho que mais do que respeito
Um rosto masculino pode ter beleza
E descobrir que a voz não é só um grunhir contrafeito
Mas um couche avec moi, um obrigado, um amém na reza

Percebe, entretanto, que o principal foram os ouvidos
Que ela com um ouvir tão alteado
E eu com um falar tão reduzido
Consegui expor um pouco do que há muito
Vinha comprimindo 
Entre a pele e as vísceras
Entre a nuca e os tímpanos
Eram ouvidos alvos pra cheirar, morder, soprar
E atentos feito burufenga no altar

Ela nem sabe, mas eu ainda escolhi o que me aprazia
Já que o primeiro encontro era dia de encontro
De outros ouvidos bem atentos
Que me ouviram outro dia...

Mas bem, se ela me disse pra deixar de vício
Por favor, pegue meu cigarro acolá
Que eu vou fumar pra não dizer que é desperdício
O tempo que eu gastei falando de laiá
Num levanto daqui porque não quero
Não porque tá difícil
Se ela se angustia
Ela que se vá!

Beijo

Nenhum comentário:

Postar um comentário